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Cavenago deixa capas de Dylan Dog para trabalhar no Millarworld

A partir do mês de setembro a série mensal de Dylan Dog terá dois novos capistas. Os irmãos Raul e Gianluca Cestaro substituem Gigi Cavenago, cuja última capa é a do número #420, intitulada Jenny. Nas últimas edições de Dylan Dog, Cavenago desenhou a quarta capa da edição e as principais foram feitas por Fabrizio De Tommaso remetendo à parceria realizada com o músico Vasco Rossi.

A estreia dos irmãos Cestaro será na edição #421, com lançamento previsto para 30 de setembro, edição comemorativa de 35 anos de Dylan Dog. A edição intitulada La Variable (A Variável), terá roteiro de Paola Barbato e desenhos de Fabio Celoni.

Skript lançará Apocalipse e Napoleone

Na sexta-feira (16), Douglas Freitas da Skript Editora anunciou em uma live no instagram do Fora do Plástico mais dois Bonellis pela editora.

O primeiro anúncio na live foi Apocalipse – O Livro das Revelações de São João, escrito por Alfredo Castelli (Martin Mystère) com desenhos de Corrado Roi (Dylan Dog). Lançado em 2019, o volume tem 112 páginas com lançamento da campanha no Catarse pela Skript dia 31 de outubro, para ser entregue em dezembro.

Alfredo Castelli, pela primeira vez no mundo, escreve uma fiel transposição para os quadrinhos do último e mais visionário livro do Novo Testamento: O Apocalipse de João. Uma história visionária que junto ao traço de Corrado Roi encontrou uma representação eficaz e surpreendente. O Apocalipse é um dos textos mais enigmáticos da Bíblia, por muito tempo objeto de várias interpretações por inúmeros estudiosos e críticos devido à sua natureza às vezes polêmica e de difícil compreensão.

Editora 85 lança Hellnoir

No próximo domingo (20), a Editora 85 irá lançar uma nova campanha no Catarse onde trará as obras Morgan Lost #3, Dampyr #7 e a estreia de Almanaque Mister No #1 e da minissérie integral Hellnoir.

A Confraria Bonelli fará uma live especial com a participação do editor da 85 Leonardo Campos e o tradutor Júlio Schneider, onde será comentado sobre todos os lançamentos e sobre a campanha que iniciará no domingo mesmo durante a Live.

Capa da edição brasileira de Hellnoir. Editora 85.

 

Conhecendo melhor Hellnoir

Hellnoir é uma cidade, em algum lugar entre o nosso mundo e outro. Uma metrópole sombria, imensa e tentacular. Todos os que tiveram uma morte violenta acabam em Hellnoir, uma segunda vida quase sempre mais dolorosa e cruel do que a primeira. Hellnoir é um lugar podre e corrupto, repleto de almas condenadas. É preciso seguir certas regras se quiser sobreviver, regras escritas com sangue, declamadas em meio a gritos e lamentações, gravadas em carne mutilada.

Napoleone – Uma estranha aventura da Bonelli

1ª edição de Napoleone

Quando lançado em 1997, Napoleone não recebeu toda a publicidade que os quadrinhos da Bonelli geralmente recebiam em seus lançamentos. Foi algo destinado a um nicho de leitores, que acabou se revelando menor do que se esperava, findando assim, em 2006, uma publicação que não merecia ter sido encerrada.

Carlo Ambrosini criou todas as características do personagem, incluindo sua aparência que lembra muito, no início pelo menos, de Marlon Brando em O último Tango em Paris. Napoleone se revela um thriller/noir introspectivo e psicológico, cheio de conteúdos e referências culturais, para apaixonar o leitor ou abandoná-lo após algumas páginas. Em consenso, era algo que não parecia pertencer à Bonelli.

Marlon Brando em O Último Tango em Paris serviu de referência visual à Napoleone.

Um dos fatores mais estranhos de Napoleone é ele se passar na Suíça, precisamente em Genebra. Ambrosini comenta que, “originalmente, o cenário deveria ser Milão, minha cidade. Eu tinha localizado o Hotel Astrid, uma pensão da qual Napoleone é proprietário, na Via Paolo Sarpi: a Chinatown milanesa. Lamento por não ter feito em Milão, porque, sem dúvida, eu poderia ter feito muito mais coisas com facilidade. Porém, a preocupação de que houvesse um realismo topográfico pudesse comprometer negativamente o protagonista. O exilamos na Suíça, em Genebra, cidade da qual pouco conheço e que creio que o nosso público também pouco sabe. A cidade suíça, no entanto é só um pretexto, pois certamente os elementos narrativos de Napoleone o leva a explorar os mais variados lugares”.

O Personagem

Napoleone Di Carlo, nasceu em Addis Ababa, na Etiópia, após a Segunda Guerra Mundial. Filho de pai italiano e mãe francesa, que “deu-lhe uma educação ocidental (fazendo-o estudar em uma escola italiana). Mas o jovem Napoleone, ao mesmo tempo, assimilou a cultura mais arcaica, impregnada de animismo e espiritualidade primitiva, do país africano em que cresceu e pelo qual se sente fortemente atraído.

Para entender melhor, o animismo abrange a crença de que não há separação entre o mundo espiritual e o mundo físico e de que existem almas ou espíritos, não só em seres humanos, mas também em animais, plantas, rochas, montanhas ou rios, etc.

Napoleone é um solitário, dedicado à leitura e entomologia (que estuda os insetos), em particular aos besouros. É o oposto do homem clássico de ação. Prefere a reflexão, introspecção, análise, atende a dúvida antes de qualquer certeza. É uma pessoa muito racional, e é por ser racional que é extremamente lúcido, dando motivos para que dois coadjuvantes da série recorram com frequência a ele, o Inspetor Dumas e o Inspetor Adjunto Boulet, que envolvem Napoleone em casos complicados da polícia suíça.

Napoleone tornou-se policial, mas seu entusiasmo pela profissão se exauriu com o fracasso na captura de um criminoso que, disfarçado de empresário credenciado na embaixada italiana, praticava o comércio de escravos. Agora, ex-policial, no início da série, Napoleone tem 35 anos, e o vemos decidido a dirigir, principalmente no período noturno, seu albergue, o Astrid Hotel, ajudado pela Sra. Simenon.

A relação entre investigação policial e o mundo onírico

A série Napoleone tinha a intenção de ser algo do gênero giallo (policial) e noir, ao estilo do diretor Alfred Hitchcock (Psicose) e do escritor Raymond Chandler (O Longo Adeus). No entanto, isso é só um pano de fundo para as investigações especiais de Napoleone. Na verdade, ele experimenta uma profunda anomalia: elementos psíquicos produzidos por sua imaginação, e visíveis apenas para ele, interagem sem sua percepção da realidade cotidiana, dialogando com ele na forma de três bizarras estatuetas, chamadas Lucrezia, Caliendo e Scintillone.

Lucrezia é uma ninfa que afirma e representa a sensibilidade feminina. Uma espécie de Sininho, do Peter Pan, com direito a relação ciumenta que ela tem com o protagonista; Caliendo é um mordomo pedante e normativo; Scintillone é um pequeno tolo, intolerante com regras e disciplina. Tem uma forma estranha de um peixe ou anfíbio.

Estes três elementos são para Napoleone a confirmação da existência de um mundo diferente do físico, que acabam interferindo no mundo físico, às vezes subvertendo radicalmente o julgamento das situações. Na sucessão dos acontecimentos do dia-a-dia, assim como nos acontecimentos da história, o acaso desempenha um papel determinante.

Durante suas aventuras, Napoleone está em contínua interconexão com o mundo real e um lugar situado fora do tempo e do espaço, onde vivem todas as “figuras” produzidas pela imaginação humana ao longo dos séculos, do Minotauro a Pinóquio… Lá, sonhos, pesadelos, fantasias, delírios e assim por diante coexistem lado a lado, esperando que seus legítimos produtores humanos os solicitem.

No lugar fora do espaço e do tempo, Napoleone é acompanhado por um cavalo falante, filósofo e estudioso que ostenta um sotaque bolonhês improvável. Onde fica este lugar? A legenda que acompanha a mudança de cenário sempre diz “acima dos lagos, dos vales, das montanhas, dos bosques, das nuvens, dos mares, além do sol, do éter e dos limites das esferas estreladas”, como se fosse um endereço, uma espécie de “segunda estrela à direita e depois direto até a manhã”, como em Peter Pan.

Apesar disso, as aventuras que Ambrosini nos contou ao longo de quase nove anos puderam abranger os mais variados registros narrativos: desde investigações tradicionais a casos intrincados mas com inimigos convencionais (máfia russa, traficantes de arte, drogas ou o misterioso arqui-inimigo Cardeal) para lutas com entidades fantásticas e aparentemente irreais como as Harpias, as Sereias, Belerofonte, o Deus Pã, o conde Drácula, o ator James Cagney, xamãs africanos. Tudo isso muitas vezes com a presença leve e simpática da coadjuvante, a adolescente Allegra, órfã que está sob a tutela de Napoleone.

Com o número 54 e com a morte do odiado Cardeal, terminaram as aventuras de Napoleone. Uma série que deixou saudades na Itália, uma das melhores produções já realizadas pela Bonelli em se tratando de qualidade, originalidade e análise aprofundada.

O time de Ambrosini

A escrita de Ambrosini é dotada de uma imaginação e criatividade assustadora e por sorte, foi acompanhado por desenhistas incríveis, mas muito diferentes uns dos outros. Carlo Ambrosini cresceu artisticamente em um período em que a experimentação era imprescindível. Suas primeiras experiências como autor completo viram luz no que pode ser definido como o crepúsculo dos quadrinhos de autor, em que a referência eram autores do calibre de Guido Buzzelli, Sergio Toppi, Guido Crepax e Dino Battaglia.

Ambrosini desenhou sete edições de Ken Parker, em 1987 estreou em Dylan Dog, em 1997 criou Napoleone e em 2008 realizou a minissérie Jan Dix. Ambrosini desenhou o Tex Gigante 19 – O Preço da Vingança e hoje, está no time de desenhistas de Dylan Dog.

Ambrosini desenhou todas as capas e escreveu a maioria das histórias de Napoleone. Outros roteiristas são Diego Cajelli, Paolo Bacilieri e Alberto Ostini. Entre os desenhistas, além do próprio Ambrosini, está Baclilieri, Marco Nizzoli, Giulio Camagni, Gabriele Ornigotti e Pasquale Del Vecchio

Destaque especial a Paolo Bacilieri cuja obra autoral, Fun, foi recentemente publicada no Brasil pela Editora Veneta.

A ideia original era que a série terminasse em 8 números. Porém, devido a dedicação que o grupo de artistas deram, apoiando Ambrosini na criação das primeiras edições convenceu a Segio Bonelli Editore a prolongar sua vida editorial. Mas, as vendas não foram encorajadoras. A série terminou em julho de 2006 no número 54, em uma edição onde Napoleone enfrenta seu arqui-inimigo, o Cardeal, para decidirem o destino da humanidade.

Em 2014 Napoleone dá as caras em um crossover com Dylan Dog na edição Color Fest n.12. A história intitulada Buggy é escrita por Ambrosini com desenhos de Paolo Bacilieri e cores de Erika Bendazzoli.

Em 2016, na Lucca Comics & Games, Ambrosini fez uma prévia do volume “Napoleone: Além das fronteiras das esferas estreladas”, com a proposta de trazer três das melhores histórias escritas e desenhadas por ele mesmo, na série regular. O volume foi publicado em 30 de novembro de 2016. Em outubro do mesmo ano, foram anunciadas três histórias inéditas, escritas por Ambrosini com a colaboração de Bacilieri e Giulio Camagni que foram publicadas em três números de Le Storie, a partir de junho de 2019. Números 81, 82 e 83. Uma delas inclusive, se passa em São Paulo.

Le Storie #81, é a primeira parte de uma trilogia que marca o retorno de Napoleone. O personagem parece fisicamente envelhecido, pois o tempo passou para ele e para os leitores. O agente Boulet amadureceu e Allegra é uma jovem prestes a se abrir para a vida.

Estamos aqui em um momento delicado da vida de Allegra e Napoleone, que está com ciúmes e com preocupações normais de um pai, dividido entre o desejo de proteção e a necessidade de libertar a menina para voar com as próprias asas.

Em Le Storie #82, Napoleão 2 – Sra. Robinson, com roteiro de Ambrosini e arte de Paolo Bacilieri. Numa clínica para idosos, destruída por um incêndio, o mal reaparece numa das suas formas mais assustadoras. A relação de Napoleone com Allegra se complica, a garota, nos braços de um artista viciado em morfina, parece se perder perigosamente, sendo relegada ao papel de testemunha indefesa.

Le Storie #83, Napoleone 3 – O inferno no Céu, roteiro de Ambrosini e desenhos de Giulio Camagni. Em São Paulo, na miséria de uma favela, jovens caem como moscas, ceifados por uma nova e poderosa droga alucinógena. Tudo parece pior pela sombra do mais temível inimigo de Napoleone, o retorno do Cardeal. Napoleone cruza o Atlântico em sua caça.

Capa da última edição de Napoleone. n. 54

Obra com somente roteiros e artes de Paolo Bacilieri, autor de Fun. Foi publicado pela Rizzoli & Lizzard.

Caminho para Le Storie! Edições 6 a 10

Aqui na Confraria tínhamos: “Séries Bonelli que talvez nunca vejamos no Brasil”, que se tornou altamente datada porque felizmente surgiram várias editoras que começaram a publicar as séries que comentamos. A intenção dessa nova empreitada é apresentar todas as edições de Le Storie. Uma série altamente rica em sua proposta com histórias incríveis e que valem a pena serem publicadas no Brasil.

Já falamos das edições 1 a 5 AQUI. E continuamos a empreitada:

Le Storie #6 – Retorno a Berlim (Ritorno a Berlino)

Roteiro: Paolo Morales

Arte: Paolo Morales e Davide de Cubellis

Capa: Aldo di Gennaro

 “Osiris 2”… o que é isso?

Ninguém parece saber, mas é certo que dizer estas palavras em público pode acabar lhe custando a vida. O jovem Max, um repórter de Berlim, foi salvo da morte certa por acaso, ele está ciente disso. René, um senhor idoso que, sob o aspecto inofensivo, esconde as habilidades mais mortais de um agente secreto… Afinal, o que une esses personagens, aparentemente distantes?

O sexto número de Le Storie gira em torno de um legado. Algo irônico, já que foi a última história escrita por Paolo Morales, levado por uma doença quando ainda não tinha nem sessenta anos. Na história, a Berlim libertada fica em segundo plano e o ritmo da ação é essencialmente íntimo e silencioso, contrabalanceado pelas reverberações festivas da libertação de Berlim em 1989.

O desenvolvimento da história se passa na Berlim nos dias de hoje, e os eventos do passado e presente vão se aproximando até se fundirem.

Os desenhos detalham as figuras e não se perde muito em paisagens e ambientes. Os personagens Max e Helen tem ótimas personalidades, a ponto de “saírem” das páginas. Uma ótima história de um artista que fará falta.

 

 

Le Storie #7 – A Patrulha (La Pattuglia)

Roteiro: Fabrizio Accatino

Arte: Giampiero Casertano

Capa: Aldo di Gennaro

Vietnã, 1967. O capitão Artz tem uma desagradável missão dada por seu superior direto: entrar na selva da Indochina – no meio daquela guerra absurda – para recuperar uma patrulha que havia desaparecido um ano antes. Um punhado de soldados para recuperar outros, enviados para o desconhecido, à mercê da morte e de seus medos…

A Guerra do Vietnã é uma fonte de inspiração para autores de qualquer campo artístico: diretores, escritores, músicos e roteiristas fizeram dela parte das histórias do imaginário contemporâneo. A Patrulha, se passa nesse cenário, onde Fabrizio Accatino, auxiliado nos desenhos por Giampiero Casertano, nos fala sobre a missão da equipe comandada pelo Capitão Artz, enviada à selva em busca da Foxtrot A patrulha 2/1, que desapareceu misteriosamente.

 

Accatino cria uma boa história, bem caracterizada e sem dúvida cativante. Que mistura o drama da guerra com uma sutil, mas inquietante veia de horror, onde a dúvida e a incerteza se instala no leitor se tornando a principal fonte de tensão. Uma história que não decepciona até o dramático e comovente final.

A Patrulha tem suas raízes em filmes de guerra, não só em Apocalypse Now, mas principalmente baseada no filme coreano R-Point, dirigido por Su-Chang Kong em 2004, do qual retoma quase inteiramente a ideia e a sequência de eventos.

A luz e sombra na obra de Casertano conquistam. Algumas páginas inteiras e quadros cuja estrutura e composição são bem detalhadas, valem muito a pena.

Esta Le Storie tem um ótimo timing narrativo e fonte de reflexão sobre a guerra. A patrulha perdida é uma metáfora para uma geração perdida, engolida por um horror inimaginável. Uma “geração perdida” enviada ao matadouro para reverberar o colonialismo ocidental.

O final, como já dito, é comovente, onde a correspondência entre um dos integrantes da equipe do Capitão Artz e sua mãe acompanha os melancólicos quadrinhos de encerramento, lembrando quantas famílias perderam seus filhos em uma das incontáveis e inúteis guerras.

Le Storie #8 – Amor Negro (Amore Nero)

Roteiro e desenhos: Gigi Simeoni

Capa: Aldo Di Gennaro

O comissário Vitalis deve investigar o assassinato brutal de Francesco, irmão mais novo de sua esposa, Ada. O caso, no entanto está fadado a se complicar quando um cenário sobrenatural surge para quebrar as regras da investigação científica. O mundo das trevas em uma alma negra cresce…

Gigi Simeoni nos lança à Milão na virada do século XX com a história “Amor Negro”. A história é abundante em registros literários, que mesclam o panfleto feminino da época, processual e horror, tudo incluído em um intrigante cenário histórico. Porém, o desenvolvimento da história se precipita em um final abrupto que deixa o leitor perplexo.

A linguagem e a prosa são modernas, com diálogos sem pretensão, mas elegantes em nos situar no ar retro da Milão do início do século XX. Se o assunto é ambicioso, o roteiro é corajoso. Mistura o amante e vingativo, além do amor entre o super-policial e a bela deficiente sensível, com aspectos sobrenaturais. Estes últimos são particularmente originais, e graficamente detalhados com maestria.

Não faltam ideias em Amor Negro: das simbologias florais à representação mediúnica da vida após a morte. Porém existe a compressão de muitos elementos no espaço estreito de uma revista de quadrinhos, com número de páginas determinadas.

Por fim, Amor Negro é uma história em quadrinhos que pode ser apreciada e confirma a qualidade de toda a série Le Storie.

Teaser:


Le Storie #9: Impasse Mexicano (Mexican Standoff)

Roteiro: Diego Cajelli

Desenhos: Matteo Cremona

Capa: Aldo Di Gennaro

Ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México – terra de “contrabando”, drogas e migrantes – um homem emerge do esquecimento após ter tocado na morte. Quem é ele realmente? Quem curou suas feridas? O que esconde em seu passado? A memória redescoberta trará consigo um cenário tenebroso de violência e vingança criminosa… mas também as sombras de presenças muito mais misteriosas. Algo que vem de longe: do abismo do tempo e do espaço…

Antes de tudo, vamos entender o que é um Impasse Mexicano, ou  Mexican Standoff, nome original da trama: Sabe nos filmes de ação quando todos levantam as armas e ficam apontando um para o outro? É isso, um impasse mexicano.

Reyes é um bandido que deveria estar morto, mas foi encontrado vivo depois de meses no deserto: em sua pele há um vestígio de cura inexplicável.

Além disso temos os seguintes elementos: Um traficante de drogas que eliminou todos os rivais e estende sua rede para além da fronteira; Estrangeiros alojados em uma base secreta dos EUA, que não são prisioneiros, mas dão ordens; Luzes que descem do céu e memórias de vidas passadas; Reyes, que pode não ser o que parece ser. Tudo isto, Diego Cajelli traz para o nono número de Le Storie.

Nos quatro quintos da história o roteiro acumula ideias: confronto dentro de uma gangue criminosa, exploração do trabalho de crianças sem futuro, contraste entre o frenesi da cidade e a serenidade das aldeias que parecem esquecidas pelo presente. Planos de vingança, amizade viril, amores perdidos, intriga, corrupção e traição. E então os alienígenas não são realmente alienígenas, entidades que não percebem o tempo, os poderes psíquicos e a transmigração das almas.

O ritmo da narrativa é administrado entre cenas de ação em alta velocidade e momentos de tranquilidade, onde são inseridos os elementos que criam expectativas. Os personagens são definidos de forma a sugerir algo mais do que é mostrado: seu passado, suas motivações, como e porque se encontraram naquela confusão de acontecimentos.

Matteo Cremona, muito eficaz nas cenas de ação, sempre construída com o ritmo adequado e com uma pincelada que comunica bem a velocidade, e capaz de transmitir, com o branco, uma sensação palpável de calor, o que aumenta a tensão.

Aí quando chega no final… a estrutura até então bem construída desmorona. Em um curto-circuito estrutural em que os elementos de mistério se revelam instrumentos para administrar um final, não dão sentido à história. Somos deixados cheios de perguntas e a dúvida de ter perdido algo no caminho.

Dá a impressão de nos encontrarmos em um episódio piloto, ou uma história pensada para uma duração muito maior e depois comprimida, sem uma revisão que adaptasse o enredo. Hábil em agradar as expectativas durante o percurso e eficaz no impacto gráfico, a história deixa, junto com muitos momentos intensos, a sensação de uma oportunidade perdida.

Le Storie #10 – Ninguém (Nobody)

Roteiro: Alessandro Bilotta

Arte: Pietro Vitrano

Capa: Aldo Di Gennaro

Ninguém… é assim que todos o chamam. “Ninguém”, o louco, o bêbado, o visionário. Como suspeitar que o maior explorador, o navegador mais incansável, se esconde naquele homem à deriva? No entanto, é assim, e Ninguém vai provar para o mundo inteiro, lançando-se em uma incrível aventura – povoada por monstros e heróis lendários – em busca do amor perdido.

Esta é a segunda obra de Le Storie com roteiro de Alessandro Bilotta e narra uma possível reescrita da saga de Ulisses, da Odisseia. Com elementos presentes em quase todas as enciclopédias de leitores ocidentais (Julio Verne, Salgari, Melville), Bilotta constroi uma história que permanece em equilíbrio entre a realidade e o sonho, entre a história dos marinheiros e uma simples viagem mental, num turbilhão apaixonado e emocionante, em que Ninguém, um novo Ninguém, procura a sua Penélope.

O autor gosta de inserir personagens e citações, verdadeiras homenagens às suas paixões, mesmo às custas de fazer da história um simples divertimento, uma homenagem às leituras do passado.

O desenhista estreante na Bonelli, Pietro Vitrano, não fica mal graças ao seu estilo denso, rico em tintas e preto, mas com boa legibilidade, como manda a tradição Bonelli.

 

Até os próximos Le Storie!

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