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O Retorno do Tex Gigante

No dia 22 de setembro foi realizada uma Live pela Confraria Bonelli em alusão aos 76 anos de Tex no Brasil, que contou com a presença do colecionador João Marin e do editor e sócio proprietário da Mythos, Dorival Vitor Lopes. Ao ser perguntado, Dorival deu a entender que estuda a possibilidade de republicar a coleção Tex Gigante em ordem cronológica.

A notícia se espalhou e por e-mail, Dorival confirmou à Confraria sobre a informação e que está em fase de negociações com a Bonelli. “Queremos iniciar em janeiro e a intenção é que seja bimestral. Formato do Tex Gigante que publicamos atualmente, em papel offset”, ressaltou o Editor da Mythos.

O Tex Speciali, ou Texone (apelidados assim por Tiziano Sclavi), já chegou à 40ª edição na Itália. No Brasil, a edição é conhecida por Tex Gigante e a última edição já está em pré venda pela Mythos. É o Tex Gigante com desenhos de Giusepe Palumbo (Diabolik) com roteiro de Jacopo Rauch, intitulado Montanhas da Sierrita.

A edição surgiu em 1988 nas bancas da Itália. A intenção de Sergio Bonelli era trazer grandes nomes dos quadrinhos para o universo de Tex, oferecendo aos leitores a sua interpretação pessoal do personagem. Bonelli já havia proposto a vários artistas a oportunidade para desenhar Tex, como o belga William Vance (criador de XIII), o espanhol Ruben Pellejero (Corto Maltese) e Nadir Quinto.

Mas foi somente no início dos anos 1980, depois de ser convidado durante um evento, é que o italiano Guido Buzzelli prometeu a Bonelli que desenharia Tex. Inicialmente, Buzelli desenharia uma edição intitulada Tex, O Grande! que então inauguraria o projeto dos Speciale. Mas na época, a intenção era publicar a história na série regular.

Porém, apesar das recomendações da editora, Buzzelli desenhou as 224 páginas fieis aos seu próprio estilo, majestoso e barroco e ao mesmo tempo grotesco. Ou seja, longe do realismo da série regular de Tex. A editora, frente à trabalho tão inovador e fascinante, obrigou-se a encontrar um espaço adequado para a publicação.

Foi então que para festejar os 40 anos de Tex, em junho de 1988 foi lançada a publicação especial Tex, O Grande!. O primeiro Tex Speciale. Vendeu 250 mil edições e a editora decidiu publicar anualmente um novo Speciale. No Brasil, a edição foi publicada pela Editora Globo em setembro do mesmo ano. A Editora publicou apenas quatro edições especiais.

Terra Sem Lei foi a segunda edição italiana do Speciale, com desenhos de Alberto Giolitti com roteiro de Claudio Nizzi. Mas, mesmo com a série pavimentada, foi difícil encontrar nomes que estariam dispostos a encarar as 224 páginas do Tex Especial. Em 1992 foi convidado Jordi Bernet, de Torpedo e Clara da Noite.

Nizzi teve dificuldade em encaixar um roteiro para Bernet, que tinha um estilo longe do habitual de Tex. Mas, em 1996 sai O Homem de Atlanta, esta que foi a primeira edição publicada pela Editora Mythos em março de 1999, dando início à série Tex Gigante que conhecemos hoje.

Vale destacar o Tex Gigante do americano Joe Kubert, O Cavaleiro Solitário, publicado em 2001. O primeiro norte-americano a trabalhar para a série. O convite veio da SAF, então agência internacional da Sergio Bonelli Editore e de Erwin Rustemagic, produtor, distribuidor e agente, retratado na Graphic Novel Fax From Sarajevo, do próprio Kubert.

E também o Especial Capitão Jack, desenhado por Enrique Breccia. O pai, Alberto, havia sido convidado em 1993 mas não teve segmento devido à morte do autor. Bonelli tentou por anos que Breccia fizesse um Tex, mas somente em 2011, quando foi morar na Itália, o desenhista recebeu o convite em um almoço, poucos dias antes do falecimento de Sergio.

Com informações do livro Tex – Mais que um herói, de Mário João Marques, publicado pela editora portuguesa A Seita.

Mythos prepara Dylan Dog Omnibus #2 para Dezembro

Esta semana muito se falou sobre a Editora Mythos e buscando colher mais informações acabou surgindo uma excelente novidade. Por e-mail o Editor e sócio da Mythos, Dorival Vitor Lopes revelou que a editora já está preparando o segundo volume de Dylan Dog Omnibus para dezembro.

Dorival Vitor Lopes. Foto: texwillerblog.com

“Estamos firmes e fortes e já trabalhando no plano editorial do próximo ano. E nosso projeto mais imediato é fazer nossas vendas crescerem e preparar o Dylan Dog Omnibus nr. 2 para dezembro”, revelou Dorival.

O primeiro volume, lançado em agosto, superou as expectativas de vendas da editora que precisou fazer mais de uma tiragem para dar conta dos pedidos em pré-venda. Com 604 páginas, a edição traz as seis primeiras edições do Investigador do Pesadelo, todas com roteiro do criador do personagem, Tiziano Sclavi e desenhos de Angelo Stano, Corrado Roi, Gustavo Trigo, Montanari & Grassani, entre outros.

Todas as seis edições já haviam sido publicadas pela Editora Record no início da década de 1990 e a primeira, “O Despertar dos Mortos Vivos” foi publicada pela Editora Conrad em 2001.

E para o próximo Omnibus teremos as seguintes histórias:

Dylan Dog #7 – A Zona do Crepúsculo, com roteiro de Tiziano Sclavi e desenhos de Montanari & Grassani. A vida flui em Inverary, lenta e lamacenta como a água do pântano. Mabel Carpenter (referência a John Carpenter) experimenta uma angústia silenciosa enquanto os dias seguem preguiçosamente… Será sempre assim? Vai ser desse jeito todos os dias? Há algo estranho na neblina do lugar. Qual é o segredo que o Doutor Hicks esconde? Por que ninguém nasce e ninguém morre na eterna quietude de Inverary? Muitas perguntas certo? Somente o Dylan pra desvendar tudo.

Dylan Dog #8 – O Retorno do Monstro, roteiro de Tiziano Sclavi com arte de Luigi Piccatto. Leonora Steele é cega, mas pode ver com os olhos da memória. A morte chegou perto dela há muitos anos, quando sua família foi assassinada por um louco. Agora este monstro voltou! Damien, o gigante assassino fugiu do manicômio para matar Leonora e o único que pode impedi-lo é Dylan Dog. Esta edição também foi publicada pela Conrad em 2001.

Dylan Dog #9 – Alfa e Omega. Roteiro de Sclavi com desenhos de Corrado Roi. A noite se ilumina e um objeto estranho despenca do espaço. A jovem Amy Irving encontra uma força alienígena com um poder incrível: o poder de se moldar em formas infinitas. Os mistérios de todo o cosmos se abrem diante de Dylan Dog. Qual é o propósito secreto da criatura? Por que ele escolheu a Terra? E por que ele quer um filho com Amy? Eeeeepa!! Uma das primeiras e brilhantes histórias de Sclavi que tratam de ufologia.

Dylan Dog #10 – Através do Espelho. Roteiro de Sclavi com desenhos de Giampiero Casertano.

Aditrevid é etrom A… Sim, às vezes é preciso ler o livro do Destino de trás para frente para entender a trama. Uma cadeia de mortes sem explicação e sem culpados, monstros infernais que saem dos espelhos, portas abertas para outros mundos. Tudo começa na casa de Rowena durante um baile de máscaras, um baile em que ninguém é o que parece ser…

Dylan Dog #11 – Diabolô O Grande. Roteiro de Sclavi com arte de Luca Dell’Uomo.

Com um movimento ágil dos dedos, um manequim, sangue falso… e o voilá, o truque está feito! No espetáculo de Diabolô, a morte é encenada como uma ilusão perfeita, mas, na vida real, ninguém vê o truque… porque não existe! Um serial killer se move nos bastidores da magia e um caso difícil está no caminho de Dylan Dog: ele deve enfrentar todos os truques de mágica de uma mente perturbada.

Dylan Dog #12 – Killer! Roteiro de Tiziano Sclavi com desenho de Montanari & Grassani.

“Cão!” é a única palavra que escapa entre os lábios do assassino. O que isso significa? Um gigante invulnerável assola as ruas de Londres, matando com a frieza de uma máquina e ninguém consegue detê-lo. Sua força vem de uma antiga profecia, sua mente vazia tem um único propósito: Matar Sarah Connor! Não… semear a destruição, apenas. Adivinhem quem se coloca no caminho deste… Exterminador e quase acaba se dando mal? Dylan Dog!

Esta edição foi publicada pela Mythos em 2003 em Dylan Dog #6.

Aproveitando fica a dica de capa para o segundo volume com uma belíssima arte de Bruno Brindisi!

Para adquirir o primeiro volume você pode acessar: https://www.lojamythos.com.br/hq-s/pre-venda-dylan-dog-omnibus-vol-01-julho2024

E acompanhe também nossas matérias especiais sobre as edições do primeiro Omnibus de Dylan Dog:

O Despertar dos Mortos Vivos

Jack, O Estripador

As Noites de Lua Cheia

O Fantasma de Anna Never

Os Matadores

A Beleza do Demônio

Garage Sale da Mythos contará com a presença de Pedro Mauro e descontos de até 70%

 No próximo sábado (10) acontece a Garage Sale Mythos 2024. Um dos principais eventos de quadrinhos que volta ao calendário dos fãs. Organizado pela Editora Mythos, o evento além de oferecer descontos com até 70% contará com uma série de convidados para participar do evento.

A Editora Mythos está há quase 30 anos no mercado e entre suas principais publicações está Tex, Julia e Dylan Dog da editora italiana Sergio Bonelli Editora. Além de Fantasma, Hellboy, Juiz Dredd, Conan e a Editora também está lançando mangás.

Entre os convidados estará o desenhista Pedro Mauro, primeiro brasileiro a desenhar Tex que estará autografando a edição Tex Especial Colorida nº18, que conta com a história Longa Noite em Cayote, com roteiro de Mauro Boselli e desenhos do brasileiro.

Também estarão presentes os editores do Universo HQ, Sidney Gusman, Samir Naliato e Marcelo Naranjo. O Universo HQ é um dos principais sites sobre quadrinhos no Brasil, que contam com o Podcast Confins do Universo e com a live semanal UHQ em Resenha.

O evento também contará com a presença do Gibituber Cássio Witt do Canal Milhas e Milhas, Clovis do canal HQólatras, Carlos Ramalho da Texas Ranger Gibiteria. 

Também estará Rafael Goulart do canal Batatinha Comics, Leonardo Campos representando a Confraria Bonelli, a Editora Salvat que tem uma coleção de Graphic Novels de Tex e o sócio e Editor da Mythos Dorival Vitor Lopes.

Além dos lançamentos mais recentes, como o Omnibus do Dylan Dog e as On Demands de Júlia, serão distribuídos brindes exclusivos do evento e disponibilizadas raridades do estoque. O evento será realizado das 10h às 17 horas na sede da Editora Mythos, Av. Mutinga, 595 – Vila Pirituba, São Paulo – SP. Neste dia a loja Mundo Mythos, na Rua Augusta estará fechada.

Algumas das raridades e brindes que estarão no evento.

 

Vídeo do Canal HQZasso no Garage Sale de 2019:

Dylan Dog Omnibus – A Beleza do Demônio

Publicado no Brasil pela Record em 1991.

“A Beleza do Demônio” é a sexta história do Omnibus de Dylan Dog lançado pela Editora Mythos. Concluindo a série de matérias especiais que a Confraria Bonelli preparou para este material com o intuito de aprofundá-la através das várias referências ao cinema e à cultura geral presentes na obra de Tiziano Sclavi.

Para cada matéria foi criado um cartaz de filme, do qual tem alguma relação com a história mencionada. Em “A Beleza do Demônio”, o cartaz foi inspirado no do filme “A Beleza do Diabo” (1950), de René Sinclair.

Dylan Dog – A Beleza do Demônio. Publicado originalmente em Dylan Dog – La bellezza del Demonio de 1º de março de 1987. Roteiro de Tiziano Sclavi, arte de Gustavo Trigo e capa de Claudio Villa.

Para fazer o download do Pôster clique em BAIXAR.

Larry Varedo era o melhor assassino profissional antes daquele fatídico dia em 1945. Um assassino frio e calculista, mas quando lhe contratam para matar Mala Behemoth, seu gelo derrete. Ela era tão linda, inatingível, quase como um fantasma ou.. um demônio! Dylan Dog irá precisar mergulhar nas areias do passado e até mesmo alcançar as profundezas do inferno para poder encontrá-la para Larry.

Claudio Villa retrata na capa um demônio visto de costas. Este demônio poderia ser inspirado em O Senhor das Trevas, interpretado por Tim Curry em “A Lenda” (1985), filme de Ridley Scott estrelado por Tom Cruise.

O título da obra, como mencionado no editorial da edição original, é inspirado em “A Beleza do Diabo” (1950), de René Sinclair. O filme é uma adaptação cinematográfica do poema trágico Fausto, de Goethe. Fausto é mencionado na história: “Eu chamo o Diabo, e ali está ele, parece até aquele romance… como se chamava? FAUSTO”.

Nessa obra, o personagem Mefistófeles (o diabo) aposta com Deus que Fausto tem um preço para a sua alma, como qualquer outro humano. Assim, Mefistófeles faz um trato com Fausto: satisfará todos os seus desejos em troca de sua servidão após a morte.

O clássico detetive noir

Jerry Lace, o homem com o rosto de Humphrey Bogart.

O assassino profissional, Larry Varedo é inspirado em muitos personagens do cinema e da literatura noir. Porém a referência mais próxima pode ser Luca Torelli, o Torpedo. Personagem da série em quadrinhos de Enrique Sánchez Abuli com desenhos de Alex Toth e Jordi Bernet. Torpedo foi publicado no Brasil pela Editora Figura e pela JBraga.

A natureza fantasmagórica de Larry também pode se referir ao Humphrey Bogart interpretado por Jerry Lacy em “Sonhos de um Sedutor” (1972) de Woody Allen. Neste filme, o crítico de cinema Allan (Woody Allen) entra em depressão depois que sua esposa o abandona. Ele busca consolo nos filmes que ama enquanto imagina Humphrey Bogart (Lacy) lhe dando conselhos de como lidar com as mulheres, sendo que estes conselhos são desprovidos de qualquer sutileza. Seu amigo Dick e a esposa Linda o encorajam a conhecer novas mulheres, mas com a sua personalidade frágil nenhuma tentativa funciona. Tudo piora quando Allan começa a ter sentimentos por Linda, passando a se sentir culpado.

O sobrenome, Varedo, vem de um município da Lombardia, na província de Monza e Brianza, não muito longe de Broni, cidade natal de Tiziano Sclavi. Na página 9 Varedo usa a palavra “Pula”, uma gíria usada na Itália para se referir à Polícia Estadual. Além disso, o nome da protagonista feminina, Mala, refere-se tanto ao conceito de mal, quanto à gíria para “submundo” do crime.

É daí que surgiram as tais “Canzoni della mala”, ou Canções do Submundo, na Itália. Um repertório popular de canções que apresentam canalhas, policiais, criminosos, presos, etc…. Idealizadas por volta de 1957/59 por Giorgio Strehler, com alguns autores de prestígio, entre eles a cantora Ornella Vanoni que levou estas canções ao sucesso.

Amor de mãe

Henry Travis como Clarence Oddbody.

O homenzinho, o pobre diabo que contrata Varedo apenas para se arrepender, chama-se Clarence Oddbody, exatamente como o anjo enviado por Deus a George Bailey, interpretado por James Stewart no filme de 1946, A Felicidade Não Se Compra. No filme, Clarence é um espírito candidato a anjo que recebe a missão de ajudar um homem muito valoroso, porém desiludido. George Bailey está à beira do suicídio quando é salvo por Clarence, que lhe mostra como ele é importante na vida de muitas pessoas.

O cadáver embalsamado do homem é uma alusão ao filme “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock. Porém a mãe e o filho psicopata aqui estão com os papeis invertidos. A mãe obesa e possessiva de Clarence pode vir de vários personagens. Uma é a Mama Fratelli, de Os Goonies (1985), interpretada por Anne Ramsey, que terá papel semelhante em “Jogue a Mamãe do Trem” (1987), com Danny Devito e Billy Cristal.

Anne Ramsay como Mama Fratelli em Os Goonies.

Na página 53 Dylan cita um dos famosos aforismos de Oscar Wilde: “Nada do que realmente acontece tem a menor importância.

A música que Dylan ouve em seu estúdio, na página 63 é Phantom’s Theme, de Paul Williams. Música que faz parte da trilha sonora do filme “O Fantasma do Paraíso” (“Phantom of the Paradise”, 1974) de Brian de Palma.

Por sua conta e risco

Behemoth, criatura presente na Bíblia.

A mulher que Varedo quer encontrar, Mala Behemoth, tem um sobrenome peculiar. Não é um dos nomes do diabo como Dylan menciona, mas sim uma gigantesca criatura lendária, mencionada, entre outras fontes, no Livro de Jó, na Bíblia.

Mala está hospedada no Hell’s Hotel (Hotel do Inferno), que fica na Rua do Paraíso, número 666 (número da Besta, segundo o Apocalipse de São João). Em outras palavras, entre o céu e o inferno.

Os demais sobrenomes presentes nas caixas de correio do condomínio onde Mala mora referem-se a escritores famosos: Burroughs, pode ser William S. Burroughs (autor de Junky e Almoço Nu), ou Edgar Rice Burroughs (criador de Tarzan e John Carter). Stevenson seria Robert Louis Stevenson (autor de A Ilha do Tesouro) e Conrad para Joseph Conrad (Coração das Trevas). Wilde para Oscar Wilde (O Retrato de Dorian Gray).

O feitiço recitado para evocar Mala, “Saday Agios Other Agla Ischiros Athanatos”, é a parte final de um feitiço de evocação contido no manuscrito denominado Opération des Sept Esprits des Planètes, guardado na Biblioteca do Arsenal, em Paris.

A invocação completa diz… leia por sua conta e risco:

“Eu te conjuro, N… (nome do demônio invocado), em nome do grande Deus vivo que criou o céu e a terra e tudo o que neles está contido e em nome de seu único Filho, redentor da raça humana, e do Espírito Santo, consolador benigno, e pelo poder do Empíreo Celestial, aparecer-me imediatamente e sem demora, e com uma aparência agradável, e sem ruído, e sem dano à minha pessoa e aos que me acompanham, e para que faça tudo o que eu lhe ordenar. Eu te conjuro, pelo Deus vivo, El, Ehome, Etrha, Ejel aser, Ejech, Adonay Iah Tetragrammaton Saday Agios outro Agla ischiros athanatos. Amém Amém Amém!”

Quando Dylan fala “Há quem diga que a vida de todo mundo é só um sonho”, ele pode estar se referindo a peça “A Tempestade” de Shakespeare, quando Próspero recita o famoso: “Nós também somos feitos da matéria de que são feitos os sonhos; e nossa curta vida está contida no espaço de um sonho”.

Mas, mais provavelmente é apenas uma citação à peça teatral “A Vida é Sonho”, de Pedro Calderón de la Barca, que narra as aventuras de Segismundo, filho renegado de Basílio, rei da Polônia que ao nascer é trancado em uma torre. Seu único contato com o mundo externo é Clotaldo, seu guardião e fiel servo de seu pai.

Nosso Ariano Suassuna, intelectual, escritor, filósofo, dramaturgo, romancista, artista plástico, ensaísta, poeta e advogado brasileiro, autor de O Auto da Compadecida e que costumava usar camisa vermelha e blaser preto, em uma de suas várias palestras pelo Brasil já falou sobre esta obra:

“A Beleza do Demônio” lembra o filme “Coração Satânico” (1987), que parece ecoar por toda a história. Detetive, clima noir, sobrenatural, elevador com porta pantográfica idêntica… Porém, por ser lançado no mesmo ano da obra, dificilmente teve alguma influência na história de Sclavi, já que as histórias da Bonelli são sempre realizadas um ano antes. “Coração Satânico” é baseado no romance “Falling Angel” do escritor americano William Hjortsberg, também autor do roteiro de A Lenda, de Ridley Scott.

Na página 46, o último quadro faz uma alusão ao quadro “Lamentação sobre o Cristo Morto”, de Andrea Mantegna. O restante da página pode ser uma referência à obra de Alfred Kubin e Grandville, em particular “O Sonho de Crime e Castigo” de 1847.

“O Sonho de Crime e Castigo” de Alfred Kubin e Grandville.

O contraponto resultante do patriarcado

Sclavi nos traz uma discussão moderna e bem elaborada sobre o patriarcado usando as duas personagens femininas da história. A mãe e a sedutora. A primeira é amada, a outra desejada, mas nenhuma é respeitada como indivíduo. Ambos os papeis oprimem as mulheres e as reduzem ao aspecto da sua existência que serve para satisfazer apenas as necessidades dos homens.

Mala, a sedutora é literalmente um demônio. Fascina o assassino Larry, Clarence e naturalmente Dylan. “A Beleza…” é uma história policial noir, e Mala é a clássica Femme Fatale. Ela está na Terra pois foi “conjurada” em 1782 e está prestes a retornar ao inferno graças ao término do prazo da convocação. Sua aparência é belíssima, e seu rosto é desprovido de qualquer emoção. É um objeto, um prêmio a ser conquistado, e quando nega os homens, ela é demonizada por isso.

Sua antagonista é a mãe de Clarence. Uma mulher grande, obesa e feia. Por causa de seu amor possessivo e obsessivo, ela embalsamou o cadáver de Clarence quando ele morreu de câncer e fingiu que ele ainda estava vivo. Apesar de toda a dedicação e declarando todo seu amor pelo filho, ele a acusa de ser . “Seu amor me machucou. Me fez continuar sendo uma criança assustada. A culpa é sua mãe”, diz Clarence. Quais são as vontades da Sra. Oddbody? Seus sonhos, traumas, gostos ou sua história? Ela vive pelo seu filho e como indivíduo está reduzida à isso, como o papel de mãe que a sociedade patriarcal impõe.

O patriarcado é um sistema sociopolítico que coloca os homens em situação de poder, ou seja, o poder pertence aos homens. Com gênero masculino e a heterossexualidade como superiores em relação a outros gêneros e orientações sexuais. Por isso, é possível verificar uma base de privilégios para os homens.

Desta forma, o contraponto que Sclavi cria na história, da perseguida e linda Demônia, e da possessiva e cruel Mãe, e a relação delas com os homens da história reflete como a sociedade impõe valores, na maioria das vezes fruto do desejo dos homens, sem levar em consideração o desejo das mulheres.

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Dylan Dog Omnibus: Os Matadores

Os Matadores é uma crítica social pesada de Tiziano Sclavi em uma história cruel de Dylan Dog. Uma sociedade refém de um terror homicida onde assassinos podem surgir até nos lares mais “perfeitos”. O mal adormecido em cada um pode, se adequadamente estimulado, surgir com toda sua fúria.

A Confraria Bonelli está realizando matérias especiais sobre cada história que sairá no Omnibus de Dylan Dog publicado pela Editora Mythos. Com o intuito de aprofundá-las através das várias referências ao cinema e à cultura geral presentes na obra de Tiziano Sclavi.

Para cada matéria foi criado um cartaz de filme, do qual tem alguma relação com a história mencionada. Em “Os Matadores” o cartaz foi inspirado mais uma vez em um filme de George Romero. É “O Exército do Extermínio” (The Crazies), de 1973, do qual Sclavi se inspirou para criar sua trama homicida.

Dylan Dog – Os Matadores. Publicado originalmente em Dylan Dog – Gli Uccisori de 1º de fevereiro de 1987. Roteiro de Tiziano Sclavi, arte de Luca Dell’Uomo. Capa de Claudio Villa.

Para fazer o download do Pôster clique em BAIXAR.

Pode uma história de mais de trinta anos ainda ser social e politicamente atual? Relendo “Os Matadores”: certamente! Londres é invadida por uma onda de “violência e derramamento de sangue” (Violence and Bloodshed, como já dizia o Manowar no álbum Fighting the world), fobias desenfreadas, histeria coletiva, paranoia… Pessoas “normais” que de repente enlouquecem e, dominadas por um ímpeto incontrolável, matam qualquer um que esteja ao seu alcance, tornando-se os tais Matadores do título.

Não estamos nem na metade do primeiro semestre editorial de Dylan Dog, e Tiziano Sclavi já está em alto nível, firme em sua missão de revelar sua visão de mundo. De que o mal, a loucura, a centelha homicida está adormecida em cada um de nós e pode, se adequadamente estimulada, surgir com toda sua fúria.

O calor enlouquece homens e mulheres. E nada melhor do que o verão para sair matando. A estação convida a todos a sair de suas casas e se encontrar, mesmo na fria metrópole inglesa. Todos estão loucos, exceto um excêntrico Lord Inglês que bate à porta do Investigador do Pesadelo. Um dos personagens coadjuvantes mais queridos da série, Lord Wells.

Ele se apresenta como o inventor de um detector de maldade. Aparelho capaz de perceber a quantidade de mal presente nas proximidades. Munido de muito dinheiro e após irritar Groucho, o chamando de “mordomo” e “servo”, consegue chamar a atenção de Dylan.

Wells quer a ajuda de Dylan para impedir uma onda imparável de matança. O fim do mundo está praticamente sobre Londres e os meios de comunicação se aproveitam da situação para destilar mais medo na sociedade. Graças ao aumento da audiência e receitas recordes com publicidade, não medem esforços para aumentar o medo e a ansiedade da opinião pública.

Dylan e Lord Wells conseguem ligar a onda de assassinatos a uma sociedade secreta que tem o objetivo de criar uma nova ordem que os permita dominar o mundo. Segundo este grupo, é necessário obter o total controle e submissão da população e isso se consegue mais fácil e rapidamente através do medo.

Wells and Hells

David Niven.

Sir H. G. Wells é fisicamente inspirado em David Niven, ator inglês que ganhou um Oscar em 1959 por “Vidas Separadas”, mas que é muito lembrado por “Ingênua Até Certo Ponto” (1953) e “Vidas Separadas” (1958).

O nome é retirado do escritor Herbert George Wells, ou somente H.G. Wells, um dos pais da ficção científica moderna. Autor de numerosos romances como O Homem Invisível, A Máquina do Tempo, A Ilha do Doutor Moreau e Guerra dos Mundos.

A empresa responsável pela onda de loucura e morte chama-se Todd LTD. “Tod” em alemão significa “morte”. Também pode ser uma referência a Sweeney Todd, o lendário e suposto serial killer que operou em Londres no final do século XIX. Muitas obras de ficção foram dedicadas à sua figura. Entre elas o filme “O Diabólico Barbeiro de Londres” (Sweeney Todd: The Demon Barber of Fleet Street), de 1936, dirigido por George King e estrelado por Tod Slaughter (de sobrenome singular que significa “Massacre”), um musical homônimo de 1979 e o filme musical de Tim Burton, estrelado por Johnny Depp.

Na página 54 aparece de relance o diretor Dario Argento. Na edição escrita pelo próprio Argento, publicada no Brasil em Dylan Dog Graphic Novel – Prelúdio para Morrer, ele comenta que seria inevitável não escrever uma história de Dylan Dog: “Comprei na banca uma edição depois que me falaram das citações de meus filmes nas histórias”, declarou o diretor de Suspiria e Profondo Rosso, do qual Sclavi é muito fã.

“Os Matadores” ganhou um jogo em 1992 para o Console Amiga, Commmodore 64 e MS-DOS. O jogo era acompanhado por uma história em quadrinhos inédita intitulada “O Retorno dos Matadores”, escrita por Sclavi com desenhos de Montanari & Grassani. Foi reimpressa em Dylan Dog Super Book #22, 10 anos depois. Os Matadores serve como um prólogo ao jogo.

Nesta história também vemos a estreia de Luca Dell’Uomo. Desenhista da Toscana que depois volta em Diabolô, O Grande, mas que deixa a série para ir trabalhar em Mister No. Um desenhista que ressalta os detalhes dos personagens, das ações e especialmente da cidade de Londres, com muita vida e publicidade nas ruas.

O homem é o lobo do homem

Sclavi tinha um objetivo muito claro com “Os Matadores”. Apresentar aos leitores a ideia de que o próprio homem é a causa principal dos seus problemas e que partindo desse ponto não há possibilidade de retroceder, apenas avançar rumo a um horror quotidiano sem fim.

Sclavi provavelmente se inspirou para esta história no filme de George Romero “O Exército do Extermínio” (The Crazies), de 1973. Onde uma arma bacteriológica causa uma epidemia de violência homicida em uma pequena cidade da Pensilvânia.

Survivors da BBC.

Além do filme de Romero, o editorial da primeira edição menciona a série de televisão britânica “Survivors”, exibida pela BBC de 1975 a 1977. O tema central do seriado é a luta pela sobrevivência de um grupo de pessoas que escapou da contaminação de um vírus misterioso que extinguiu cerca de 90% da humanidade.

Ernest Hemingway tem um conto chamado “The Killers”, de 1927, mas nada tem a ver com a trama de “Os Matadores” de Sclavi. Em “The Killers”, na época da Lei Seca, 1920, os assassinos Max e Al entram em um restaurante e depois revelam que foram mandados para matar um ex-lutador de boxe, que chegaria ao restaurante em breve.

Página de Mutus Liber.

Na página 91, Dylan e Wells mencionam o livro “Mutus Liber”, um livro mudo publicado na França em 1677. De autor anônimo, é um famoso livro alquímico e uma das mais belas produções do período medieval. O livro consiste de uma série de figuras que ilustram todo o trabalho alquímico.

Na página 84 Groucho nos informa quais são seus livros favoritos: A Bíblia, O Alcorão, O Capital de Marx, Todas as Histórias de Poe e Moby Dick de Herman Melville. Todos materiais volumosos que ele também usa como…colete à prova de balas.

Política nos meus quadrinhos!

O sequestro e o assassinato a sangue frio de Aldo Moro, Juiz italiano.

Como Dylan Dog é um quadrinho italiano que se passa em Londres, é difícil que o mundo italiano não reflita na Londres fictícia do universo do personagem. “Os Matadores” é uma das histórias mais políticas de Sclavi até este momento. A tensão em que a sociedade é colocada devido à violência que se instala, faz referências ao estado de tensão que a Itália viveu nas décadas de 70 e 80. Principalmente devido ao surgimento de grupos de extrema esquerda como as Brigadas Vermelhas, que foram as mais estruturadas e que tinham sindicalistas, juízes, jornalistas, policiais e líderes políticos na mira.

Mas a história também bebe muito da influência do governo neoliberal de Margaret Thatcher, a Dama de Ferro que exerceu o cargo de Primeira-Ministra do Reino Unido de 1979 a 1990. Thatcher transformava a economia britânica através de uma combinação de repressão política e liberdade empresarial. De 1984 a 1985 aconteceu a lendária greve dos mineiros, a última batalha do movimento operário na Grã-Bretanha, que após um ano de conflito, semelhante a uma guerra civil, foi derrotado pelo Estado.

Thatcher fez valer seu programa de fechar as minas, mas conseguiu mais do que isso. Daquele ponto em diante, todos os sindicatos do país sabiam que não era possível contestar o governo, e que o neoliberalismo e o enfraquecimento dos direitos trabalhistas estavam ali para ficar.

Policiais reprimem greve de mineiros. Inglaterra, 1984. Foto de John Sturrock.

Antes do confronto, os mineiros somavam 200 mil, espalhados por 130 minas de carvão. Hoje, não passam de 1.800, em apenas seis minas. Nenhuma trajetória expõe tão bem a visão econômica dos anos Thatcher quanto a dos mineiros britânicos, reduzidos a pó e por nada. Ou seja, os trabalhadores foram aniquilados pelos verdadeiros “Matadores” como uma “Nova Ordem” mencionada na história. Empresários que tiram vantagem e detém o controle da economia mundial, amparados pelo Estado.

A crítica à direita conservadora também aparece na história, como no primeiro assassinato que é na família modelo, com o pai que quer se tornar chefe da seção de transportes, a esposa, dona de casa perfeita e duas crianças loiras. Ou seja, o horror está até mesmo em locais que se dizem “perfeitos”.

O discurso de Todd na Câmara dos Lordes, mencionando que a doença iria se espalhar pelo mundo inteiro, “não é consequência natural da permissividade, do colapso de todos os valores, da anarquia desenfreada? Se não conseguirmos restaurar a ordem, seremos aniquilados”, destacando os que acham que tem a razão suprema e que suas ideias são superiores a todas as outras.

E por fim o anfitrião da festa no palácio que critica os bairros mais humildes como Soho e Islington, ressaltando Kensington, um bairro nobre de Londres. “Enquanto os mendigos se matarem, é melhor para nós!”

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