Dica de trilha para escutar enquanto lê. Nada melhor do que a trilha de “As Minas do Rei Salomão”, clássico da Sessão da Tarde que conta uma grande aventura na África:

Gianfranco Manfredi (à direita), é um dos gênios da Sergio Bonelli Editore, criador de séries como Mágico Vento e Face Oculta. Em 2014 o italiano deu vida à mais uma série Bonelli: Adam Wild. Para nós esta série teve algo muito especial, em sua equipe de desenhistas estavam dois brasileiros: Ibraim Roberson e Pedro Mauro.

Ibraim Roberson já desenhou para Marvel e DC, além de ter feito a versão em quadrinhos do Guia de sobrevivência aos zumbis – Ataques registrados, lançado no Brasil pela Rocco. E Pedro Mauro é um desenhista muito experiente que voltou com força total. Começou na editora Taika, de Jayme Cortez ajudando Ignacio Justo em histórias de guerra. Meses depois assinava a arte da revista Pancho, um western spaguetti. Depois deixou as HQs para fazer storyboards para publicidade. Em 2017 Pedro lançou junto ao roteirista Carlos Estefan a hq independente “Gatilho” contando a história de um caçador de recompensas que chega a uma cidade abandonada em busca de justiça.

Voltando à Adam Wild, a obra foi lançada em outubro de 2014 com a primeira edição intitulada “Os Escravos de Zanzibar”. Os roteiros são de Gianfranco Manfredi e as capas são de Darko Perović. A realização gráfica do personagem ficou a cargo de Alessandro Nespolino. A série acontece no final do século XIX e suas histórias são histórico-aventureiras que ocorrem na chamada África negra, do Quênia à África do Sul, com uma “localização” prevalecente na Tanzânia, incluindo países como Congo e Nigéria.

Como em Mágico Vento, Face Oculta, entre outros de seus trabalhos, Manfredi escreve com muita base em pesquisa histórica. Adam Wild é um homem de ação, que prefere o contato com a natureza e a viver em Londres.

Em suas missões, Adam está sempre acompanhado de amigos e de Amina, a princesa guerreira Bantu que luta ao seu lado. Suas características o fazem parecer Errol Flynn (imagem abaixo), Clark Gable e Douglas Fairbanks.

Adam Wild é um homem ousado, positivo e amante da natureza. É um explorador escocês, membro da Royal Geographical Society de Londres. Em suas aventuras combate as mais diversas ameaças da exploração colonial na África como o poder de empresas ocidentais, a exploração nas minas de ouro e diamantes e as guerras tribais induzidas pela política europeia.

Em entrevista a Alfredo Castelli, criador de Martin Mystère, Manfredi comenta que Adam Wild nasceu como um projeto dedicado aos leitores de longa data da Bonelli. “Os leitores Bonelli estão a décadas conosco, são leitores para a vida toda. Em épocas de crise chegamos a vender 28 milhões de cópias e temos muito a agradecer aos fieis leitores. Enquanto no passado, quando a tradição da Bonelli era vista como conservadora, eu e outros autores tentávamos propor coisas inovadoras (devido à estabilidade assegurada por Tex, Dylan Dog e Martin Mystère), agora penso que alguém deveria cuidar não só de encontrar novos leitores, mas manter os que continuam conosco, pois se os perdermos, estamos ferrados”, comentou Gianfranco.

Foi Manfredi quem encontrou a arte de Pedro Mauro no Facebook e o convidou a fazer parte do projeto (arte de Pedro Mauro à direita). Em entrevista ao site Mania de Gibis, Pedro Mauro comentou sobre Gianfranco, “ele é muito organizado: manda todas as referências, quadro a quadro, e tem um roteiro bem fácil de seguir”. Já Ibraim Roberson chegou a Manfredi por meio do seu representante na Itália.

Segundo o desenhista, Manfredi nunca fez um retoque sequer nas sequências narrativas. “Ele parece desenhar cada detalhe das páginas no momento em que está escrevendo. O meu trabalho fica facilitado, pois é exatamente como uma tradução, em vez de uma adaptação”, diz Roberson. “Toda a energia de um texto incrível está visível em cada painel de Adam Wild”.

Em Adam Wild, Manfredi diz que tentou mostrar a raiz histórica de problemas que reapareceram fortemente hoje em dia, como a escravidão. “Adam Wild não é um explorador normal, ele é um libertador de escravos que mais tarde se envolve em guerras coloniais. É uma série que continuou o discurso aventureiro e histórico das obras de Arthur C. Clark (2001: Uma Odisseia no Espaço), ou do personagem Indiana Jones, etc.

Ao falar do encerramento da série na 26ª edição, Manfredi comenta que poderia ter abordado muito mais assuntos. “Adam Wild passa por cerca de quinze países africanos subsaarianos. Passagens pelo Congo, alusões ao Sudão e nem mencionamos Angola. Em suma, haveria muito a contar”, e destaca que agora com a série concluída, não mudaria nada em sua trajetória, “após ter passado pela falta de clareza no início da série, pois não sabíamos se seria longa ou não, tudo se encaixou depois e a série é muito clara em sua proposta”.

Viva Bonelli!