Dylan Dog #1
Dia 26 de setembro de 1986, era publicado pela Daim Press, hoje Sergio Bonelli Editore, Dylan Dog: O Despertar dos Mortos Vivos. Um quadrinho de terror, que trazia muito splatter e um Investigador diferente de tudo que já se viu. Se tornou um fenômeno editorial, na década de noventa vendia mais de meio milhão de edições, ganhando Festivais com seu nome, superando o ouro da casa: Tex.
Depois dos anos 2000 as vendas decaíram e em meados dos anos 2010, literalmente, um Meteoro atingiu Dylan Dog afastando até mesmo os leitores mais antigos. Foi somente em 2022, com a chegada da editora Barbara Baraldi que Dylan Dog, segundo a própria: “irá voltar a ter o Pesadelo de volta ao centro das histórias”.
Hoje, especialmente no Brasil, não se sabe que rumo Dylan Dog tem tomado. Os fãs que abandonaram a fase italiana no período do editor Roberto Recchioni, período este que chegou a aposentar o Inspetor Bloch e sumir com Groucho colocando no lugar dele Gnaghi, nem sabem que o personagem voltou ao status quo de antes. Esta fase foi publicada pela metade no Brasil pela Mythos em Dylan Dog Nova Série, cancelada na edição #32.
Aqui você verá um apanhado da vida editorial de Dylan Dog na Itália, um guia para que os leitores brasileiros entendam o que aconteceu e o que está acontecendo com o personagem hoje em dia.
Fase SCLAVI
Dylan Dog #100
Como dito, Dylan foi lançado em 1986 e no primeiro ano editorial, todas as histórias foram escritas pelo criador do personagem, Tiziano Sclavi. Depois outros autores alternaram como Giuseppe Ferrandino, Luigi Mignacco, Alfredo Castelli (criador de Martin Mystère), Medda, Serra e Vigna (criadores de Nathan Never), Carlo Ambrosini (criador de Napoleone), Gianfranco Manfredi (criador de Mágico Vento), Mauro Marcheselli, Pasquale Ruju, Paola Barbato, Claudio Chiaverotti (criador de Morgan Lost) e muitos outros.
Dylan Dog #42 – Estreia de Angelo Stano como capista
A grande maioria dos fãs de Dylan Dog elogiam os primeiros 100 números, que segundo eles, é o auge do personagem. Essa fase está sendo publicada atualmente pela Editora Mythos em Dylan Dog “clássico” e se continuar assim teremos os 100 primeiros números publicados no Brasil somando todas as séries que já saíram pela Record, Conrad, Lorentz e Mythos. “A principal característica dos primeiros 100 números foi que nós, leitores, nunca sabíamos o que esperar. Eram histórias surpreendentes e por muitas vezes nos deixavam reflexões. Quando chegávamos ao final às vezes não tínhamos uma resposta, mas uma pergunta”, disse Barbara Beraldi em uma entrevista para a Wired.
Dylan Dog #250
Sclavi convivia com uma forte depressão e o alcoolismo. Após a 100ª edição, publicada em janeiro de 1995 ele continuou escrevendo ocasionalmente, largando definitivamente o personagem em 2007 na edição #250 “Ascensore per L’Inferno” (Elevador para o Inferno).
Claudio Villa, criador visual de Dylan Dog foi capista da série até a edição #41, sendo substituído por Angelo Stano, desenhista da primeira história do Investigador do Pesadelo.
Por volta do número #300, a linha traçada por Sclavi para o personagem se perde bastante, e surgem histórias com qualidade variada. Obras previsíveis como O Museu do Crime (305) e monótonas como A autópsia (309). Angelo Stano tem uma péssima estreia como roteirista em Legião dos Esqueletos (315) e até mesmo Paola Barbato, uma das autoras mais talentosas de Dylan, que nos entregou o brilhante “Número 200”, fica um pouco perdida nesse período como é visto em O Colapso (313), que no panorama geral dessa fase foi até uma boa história.
DyD #305 / DyD #309 / DyD #315 / DyD #313
DyD #316 / DyD #286 / DyD #311 / DyD #307
A revista oferecia histórias esquecíveis e temas já abordados, sem valor a acrescentar e aventuras em que Dylan estava presente quase por acaso e sem uso para os propósitos narrativos. Neste período pode-se contar nos dedos as edições que, de uma forma ou de outra, nos apresentaram um Dylan digno de ser lido. Talvez “Blacky” (316), “Programa de reeducação” (286), “O julgamento do corvo” (311) de Recchioni ou “O assassino do vizinho” (307).
2013: Início da fase RECCHIONI
Dylan Dog #337
O personagem ia muito mal e entre 2013 e 2014 acontece uma reformulação do personagem confiada à Roberto Recchioni. Nomeado editor da série no lugar de Giovanni Gualdoni, que ficou apenas três anos no cargo após a gestão de Mauro Marcheselli. Franco Busatta ficou responsável pela coordenação editorial.
O relançamento começa a partir da edição #337 – Spazio Profondo (Espaço Profundo), uma história onde Dylan, ou uma versão alternativa dele, está em uma estação espacial e tem que lidar com monstros e fantasmas. A partir da #338, que no Brasil deu início a Dylan Dog Nova Série, é que começam a acontecer as verdadeiras mudanças narrativas.
Dylan Dog Nova Série #1 – Mythos
Todos os números tem histórias independentes, mas mantém uma espécie de continuidade narrativa que liga os episódios em ciclos anuais. O Inspetor Bloch se aposenta da Scotland Yard e muda-se para o campo. Quem assume seu lugar é Tyron Carpenter, que considera Dylan um charlatão e apreende o distintivo vencido que Dylan usava mesmo não sendo mais policial. Ele é introduzido junto à Sargento Rania Rakin, uma policial da Scotland Yard que se torna coadjuvante de Dylan em algumas histórias.
Carpenter e Rania surgem na série Dylan Dog.
Dylan Dog Nova Série #4 – Estreia de John Ghost.
Uma das novidades é a inserção da tecnologia na vida de Dylan através de um smartphone gerenciado por Groucho. Toda a fase Recchioni tem como grande vilão John Ghost, um industrial inescrupuloso.
Depois de nove anos, em 2016, após nove anos de ausência, Sclavi volta a escrever um roteiro para Dylan Dog na edição #362 (Dopo un lungo silenzio), e em 2017 na edição #375 (Nel Misterio).
Na edição #363 estreia um novo capista, Gigi Cavenago, que substitui Angelo Stano.
Dylan Dog #363 – Estreia de Gigi Cavenago como capista
O ciclo METEORA
Dylan Dog #387
A partir da edição #387 inicia um ciclo de 13 histórias interligadas intitulada “Ciclo Meteora”, que se encerra na edição #400. Nessa fase existe um meteoro vindo em direção à Terra gerando muitos distúrbios ao planeta. É feita uma contagem regressiva nas capas, e o logotipo da revista vai apresentando rachaduras até se desintegrar.
As subtramas apresentadas desde o início da fase Recchioni se concluem e na edição #400 acontece um reboot radical.
O interesse dos leitores ávidos e fieis já vinha diminuindo e com a edição #400 a empatia acaba totalmente.
Dylan Dog #400 contou com 4 capas variantes de Villa, Stano, Cavenago e Corrado Roi.
Ciclo 666 e mais
Dylan Dog #403
A partir da edição #401 inicia o Ciclo 666 em seis edições escritas por Roberto Recchioni. Dylan é apresentado em uma nova versão. Está acompanhado por Gnaghi ao invés de Groucho. Gnaghi é o personagem criado por Sclavi para o romance Dellamorte Dellamore, que deu origem a um filme com Rupert Everett (inspiração visual para Dylan).
Dellamorte, Dellamore (Cemetery Man) (1994)
Dylan passa a ser filho adotivo de Bloch, que de Inspetor passa a ser Superintendente. A Sargento Rania é a ex-mulher de Dylan, que o traiu para ficar com Carpenter. O ciclo 666 permitiu a Recchioni explorar em outras ocasiões, um Dylan pós-moderno se apresentando em diferentes versões e nuances ao leitor, vivenciando infinitas possibilidades.
A partir do número #407 tudo volta como era antes. Groucho retorna ao seu cargo de auxiliar e as histórias voltam à normalidade, com a diferença que passam a surgir minisagas com três edições ou mais.
2022: o início da fase BARALDI
Dylan Dog #421 – Estreia dos irmãos Cestaro como capistas.
A fase Recchioni gerou um grande impacto para a publicação de Dylan Dog. Apesar de buscar e por muitas vezes conseguir a atenção midiática através de novidades narrativas e gráficas, os fãs criticavam e abandonavam o personagem, reclamando cada vez mais de uma descaracterização de Dylan e seu mundo.
Na edição #421 Cavenago deixa de ser capista e dá lugar aos irmãos Gianluca e Raul Cestaro.
O próprio Tiziano Sclavi assume o controle e propõe o reboot do reboot. Em três edições tudo que Recchioni havia feito desaparece, literalmente. Em Dylan Dog #435, escrita por Claudio Lanzoni e Recchioni, John Ghost desaparece. Na #436 Rania morre e na #437 Carpenter morre. Bloch volta a ser Inspetor e deixa de ser pai adotivo de Dylan, que esquece tudo que havia acontecido antes devido a uma incompatibilidade espaço-temporal.
DyD #435 / DyD #436 / DyD #437
Dylan Dog #441
Em maio de 2023, Barbara Baraldi se torna a nova Editora de Dylan Dog substituindo Recchioni que permanece na equipe como roteirista. “Alguns leitores ficaram assustados porque pegaram uma edição aleatória de Dylan após o ciclo Meteora e não conheceram mais os personagens que deveriam ser familiares. O experimento foi maravilhoso, mas agora todos estão restabelecendo seu papel”, disse Baraldi.
A primeira edição sob o comando de Baraldi é Dylan Dog #441 – La Congiura dei Colpevoli. Na introdução da revista o próprio Tiziano Sclavi toma a palavra, se despede de Recchioni e abre as portas para Barbara. Mas é somente em Dylan Dog #446 que Baraldi abre uma saga em três edições sobre inteligência artificial, iniciando assim oficialmente sua fase em Dylan Dog.
Dylan Dog #446 / Dylan Dog #447 / Dylan Dog #448
Segundo Baraldi, ela e Sclavi estão frequentemente em contato, “quando os roteiristas me enviam temas para novas histórias, Tiziano os lê e me dá sua opinião, sempre muito forte. E às vezes ele tem suas próprias propostas. Ele está se envolvendo mais novamente, o que é fantástico”.
Uma das mudanças editoriais aplicadas por Baraldi foi trazer A Enciclopédia do Terror, uma versão do antigo Almanaque do Terror. A Enciclopédia traz três histórias com temas específicos. No primeiro, lançado em 2023 foi S de Sereia, M de Mito e F de Fantasma. E as edições BIS, geralmente publicadas em julho, trarão histórias de Dylan Dog, mas semelhantes ao “E Se…” da Marvel. Na edição que sai em julho de 2024, a trama acontece no ano de 1899, onde Dylan está em uma viagem na Antártica, mas durante cinco semanas o navio fica preso no gelo. A tripulação encontra um fóssil misterioso e o terror começa ao estilo de “O Enigma de Outro Mundo”, de John Carpenter.
Enciclopédia do Medo 2023 / Dylan Dog #454 BIS
Baraldi ressalta que preparou uma carta aos redatores, uma espécie de declaração de intenções. “Com muito respeito aos colegas que trabalham na revista há mais anos do que eu. Hoje temos tantas opções, séries, games, TV… para um jovem, porque deveria escolher Dylan Dog ao invés de um mangá? Temos que dar uma resposta, e na minha opinião é: Escolha Dylan Dog para encontrar algo que te surpreenda, que te deixe sem palavras. Escolha Dylan para ler histórias que ficarão eternamente com você”.