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O próximo Tex Gigante

Em junho foi publicado o Tex Gigante #40 – Sierrita Mountains (Montanhas de Sierrita), com roteiro de Jacopo Rauch e desenhos de Giuseppe Palumbo. Segundo o Cronograma de Publicações da Mythos, publicado no Blog do Tex, o lançamento deste Tex Gigante tem previsão para ser lançado em Outubro no Brasil.

Rauch é roteirista de Zagor e de algumas histórias do próprio Tex. Os desenhistas são sempre as grandes estrelas dos Tex Gigantes, e Palumbo é o artista principal desta edição. Começou a carreira em 1984 e em 1986 publicou a primeira aventura de seu principal personagem, Ramarro e depois começou a publicar na famosa revista Frigidaire.

Desde 1990 começou a dar aulas na Escola de Quadrinhos de Milão ao mesmo tempo em que trabalhava com agências de publicidade. A partir de 1994 começa a trabalhar na Sergio Bonelli Editore desenhando o personagem Martin Mystère. Em 2001, junto a Alfredo Castelli refez a primeira história de Diabolik: O Rei do Terror: o remake. Aqui ele inicia uma longa colaboração com o personagem.

Em Sierrita Mountains acompanhamos Selina, uma jovem que está fugindo de seu passado e alguém quer silenciá-la para sempre! Um assassino solitário e implacável é apaixonado por ela, um fora da lei que quer vingar seu irmão, morto por caçadores de recompensas contratados por um chefe sem escrúpulos. Tex e Carson estão no encalço de todos e os destinos irão se entrelaçar nas montanhas de Sierrita.

Sobre o convite para fazer o Gigante, Palumbo comenta, “a emoção começa quando chega o convite e mais ainda quando eu ver minha edição ao lado da de Magnus (Tex Gigante #13 – O Vale do Terror), cujo Texone eu fui ver quando ele começou a desenhá-lo”. Palumbo confessa que não é um leitor de Tex, “li muitos números no passado, mas não me considero um leitor assíduo. Respeito seu enorme alcance na cultura popular italiana”, ressalta.

Sobre o que mais gostou de desenhar em Sierrita Mountains, Palumbo ressalta que são as paisagens, “os enormes espaços abertos que visitei há anos. E depois os rostos e movimentos, a atuação e o dinamismo dos personagens da história: do protagonista ao último figurante”.

 

O Pesadelo Editorial de Dylan Dog

Dylan Dog #1

Dia 26 de setembro de 1986, era publicado pela Daim Press, hoje Sergio Bonelli Editore, Dylan Dog: O Despertar dos Mortos Vivos. Um quadrinho de terror, que trazia muito splatter e um Investigador diferente de tudo que já se viu. Se tornou um fenômeno editorial, na década de noventa vendia mais de meio milhão de edições, ganhando Festivais com seu nome, superando o ouro da casa: Tex.

Depois dos anos 2000 as vendas decaíram e em meados dos anos 2010, literalmente, um Meteoro atingiu Dylan Dog afastando até mesmo os leitores mais antigos. Foi somente em 2022, com a chegada da editora Barbara Baraldi que Dylan Dog, segundo a própria: “irá voltar a ter o Pesadelo de volta ao centro das histórias”.

Hoje, especialmente no Brasil, não se sabe que rumo Dylan Dog tem tomado. Os fãs que abandonaram a fase italiana no período do editor Roberto Recchioni, período este que chegou a aposentar o Inspetor Bloch e sumir com Groucho colocando no lugar dele Gnaghi, nem sabem que o personagem voltou ao status quo de antes. Esta fase foi publicada pela metade no Brasil pela Mythos em Dylan Dog Nova Série, cancelada na edição #32.

Aqui você verá um apanhado da vida editorial de Dylan Dog na Itália, um guia para que os leitores brasileiros entendam o que aconteceu e o que está acontecendo com o personagem hoje em dia.

Fase SCLAVI

Dylan Dog #100

Como dito, Dylan foi lançado em 1986 e no primeiro ano editorial, todas as histórias foram escritas pelo criador do personagem, Tiziano Sclavi. Depois outros autores alternaram como Giuseppe Ferrandino, Luigi Mignacco, Alfredo Castelli (criador de Martin Mystère), Medda, Serra e Vigna (criadores de Nathan Never), Carlo Ambrosini (criador de Napoleone), Gianfranco Manfredi (criador de Mágico Vento), Mauro Marcheselli, Pasquale Ruju, Paola Barbato, Claudio Chiaverotti (criador de Morgan Lost) e muitos outros.

Dylan Dog #42 – Estreia de Angelo Stano como capista

A grande maioria dos fãs de Dylan Dog elogiam os primeiros 100 números, que segundo eles, é o auge do personagem. Essa fase está sendo publicada atualmente pela Editora Mythos em Dylan Dog “clássico” e se continuar assim teremos os 100 primeiros números publicados no Brasil somando todas as séries que já saíram pela Record, Conrad, Lorentz e Mythos. “A principal característica dos primeiros 100 números foi que nós, leitores, nunca sabíamos o que esperar. Eram histórias surpreendentes e por muitas vezes nos deixavam reflexões. Quando chegávamos ao final às vezes não tínhamos uma resposta, mas uma pergunta”, disse Barbara Beraldi em uma entrevista para a Wired.

Dylan Dog #250

Sclavi convivia com uma forte depressão e o alcoolismo. Após a 100ª edição, publicada em janeiro de 1995 ele continuou escrevendo ocasionalmente, largando definitivamente o personagem em 2007 na edição #250 “Ascensore per L’Inferno” (Elevador para o Inferno).

Claudio Villa, criador visual de Dylan Dog foi capista da série até a edição #41, sendo substituído por Angelo Stano, desenhista da primeira história do Investigador do Pesadelo.

Por volta do número #300, a linha traçada por Sclavi para o personagem se perde bastante, e surgem histórias com qualidade variada. Obras previsíveis como O Museu do Crime (305) e monótonas como A autópsia (309). Angelo Stano tem uma péssima estreia como roteirista em Legião dos Esqueletos (315) e até mesmo Paola Barbato, uma das autoras mais talentosas de Dylan, que nos entregou o brilhante “Número 200”, fica um pouco perdida nesse período como é visto em O Colapso (313), que no panorama geral dessa fase foi até uma boa história.

DyD #305 / DyD #309 / DyD #315 / DyD #313

 

DyD #316 / DyD #286 / DyD #311 / DyD #307

A revista oferecia histórias esquecíveis e temas já abordados, sem valor a acrescentar e aventuras em que Dylan estava presente quase por acaso e sem uso para os propósitos narrativos. Neste período pode-se contar nos dedos as edições que, de uma forma ou de outra, nos apresentaram um Dylan digno de ser lido. Talvez “Blacky” (316)“Programa de reeducação” (286) “O julgamento do corvo” (311) de Recchioni ou “O assassino do vizinho” (307).

 

2013: Início da fase RECCHIONI

Dylan Dog #337

O personagem ia muito mal e entre 2013 e 2014 acontece uma reformulação do personagem confiada à Roberto Recchioni.  Nomeado editor da série no lugar de Giovanni Gualdoni, que ficou apenas três anos no cargo após a gestão de Mauro Marcheselli. Franco Busatta ficou responsável pela coordenação editorial.

O relançamento começa a partir da edição #337 – Spazio Profondo (Espaço Profundo), uma história onde Dylan, ou uma versão alternativa dele, está em uma estação espacial e tem que lidar com monstros e fantasmas. A partir da #338, que no Brasil deu início a Dylan Dog Nova Série, é que começam a acontecer as verdadeiras mudanças narrativas.

Dylan Dog Nova Série #1 – Mythos

Todos os números tem histórias independentes, mas mantém uma espécie de continuidade narrativa que liga os episódios em ciclos anuais. O Inspetor Bloch se aposenta da Scotland Yard e muda-se para o campo. Quem assume seu lugar é Tyron Carpenter, que considera Dylan um charlatão e apreende o distintivo vencido que Dylan usava mesmo não sendo mais policial. Ele é introduzido junto à Sargento Rania Rakin, uma policial da Scotland Yard que se torna coadjuvante de Dylan em algumas histórias.

Carpenter e Rania surgem na série Dylan Dog.

Dylan Dog Nova Série #4 – Estreia de John Ghost.

Uma das novidades é a inserção da tecnologia na vida de Dylan através de um smartphone gerenciado por Groucho. Toda a fase Recchioni tem como grande vilão John Ghost, um industrial inescrupuloso.

Depois de nove anos, em 2016, após nove anos de ausência, Sclavi volta a escrever um roteiro para Dylan Dog na edição #362 (Dopo un lungo silenzio), e em 2017 na edição #375 (Nel Misterio).

Na edição #363 estreia um novo capista, Gigi Cavenago, que substitui Angelo Stano.

Dylan Dog #363 – Estreia de Gigi Cavenago como capista

O ciclo METEORA

Dylan Dog #387

A partir da edição #387 inicia um ciclo de 13 histórias interligadas intitulada “Ciclo Meteora”, que se encerra na edição #400. Nessa fase existe um meteoro vindo em direção à Terra gerando muitos distúrbios ao planeta. É feita uma contagem regressiva nas capas, e o logotipo da revista vai apresentando rachaduras até se desintegrar.

As subtramas apresentadas desde o início da fase Recchioni se concluem e na edição #400 acontece um reboot radical.

O interesse dos leitores ávidos e fieis já vinha diminuindo e com a edição #400 a empatia acaba totalmente.

Dylan Dog #400 contou com 4 capas variantes de Villa, Stano, Cavenago e Corrado Roi.

Ciclo 666 e mais

Dylan Dog #403

A partir da edição #401 inicia o Ciclo 666 em seis edições escritas por Roberto Recchioni. Dylan é apresentado em uma nova versão. Está acompanhado por Gnaghi ao invés de Groucho. Gnaghi é o personagem criado por Sclavi para o romance Dellamorte Dellamore, que deu origem a um filme com Rupert Everett (inspiração visual para Dylan).

Dellamorte, Dellamore (Cemetery Man) (1994)

Dylan passa a ser filho adotivo de Bloch, que de Inspetor passa a ser Superintendente. A Sargento Rania é a ex-mulher de Dylan, que o traiu para ficar com Carpenter. O ciclo 666 permitiu a Recchioni explorar em outras ocasiões, um Dylan pós-moderno se apresentando em diferentes versões e nuances ao leitor, vivenciando infinitas possibilidades.

A partir do número #407 tudo volta como era antes. Groucho retorna ao seu cargo de auxiliar e as histórias voltam à normalidade, com a diferença que passam a surgir minisagas com três edições ou mais.

2022: o início da fase BARALDI

Dylan Dog #421 – Estreia dos irmãos Cestaro como capistas.

A fase Recchioni gerou um grande impacto para a publicação de Dylan Dog. Apesar de buscar e por muitas vezes conseguir a atenção midiática através de novidades narrativas e gráficas, os fãs criticavam e abandonavam o personagem, reclamando cada vez mais de uma descaracterização de Dylan e seu mundo.

Na edição #421 Cavenago deixa de ser capista e dá lugar aos irmãos Gianluca e Raul Cestaro.

O próprio Tiziano Sclavi assume o controle e propõe o reboot do reboot. Em três edições tudo que Recchioni havia feito desaparece, literalmente. Em Dylan Dog #435, escrita por Claudio Lanzoni e Recchioni, John Ghost desaparece. Na #436 Rania morre e na #437 Carpenter morre. Bloch volta a ser Inspetor e deixa de ser pai adotivo de Dylan, que esquece tudo que havia acontecido antes devido a uma incompatibilidade espaço-temporal.

DyD #435 / DyD #436 / DyD #437

Dylan Dog #441

Em maio de 2023, Barbara Baraldi se torna a nova Editora de Dylan Dog substituindo Recchioni que permanece na equipe como roteirista. “Alguns leitores ficaram assustados porque pegaram uma edição aleatória de Dylan após o ciclo Meteora e não conheceram mais os personagens que deveriam ser familiares. O experimento foi maravilhoso, mas agora todos estão restabelecendo seu papel”, disse Baraldi.

A primeira edição sob o comando de Baraldi é Dylan Dog #441 – La Congiura dei Colpevoli. Na introdução da revista o próprio Tiziano Sclavi toma a palavra, se despede de Recchioni e abre as portas para Barbara. Mas é somente em Dylan Dog #446 que Baraldi abre uma saga em três edições sobre inteligência artificial, iniciando assim oficialmente sua fase em Dylan Dog.

 

Dylan Dog #446 / Dylan Dog #447 / Dylan Dog #448

Segundo Baraldi, ela e Sclavi estão frequentemente em contato, “quando os roteiristas me enviam temas para novas histórias, Tiziano os lê e me dá sua opinião, sempre muito forte. E às vezes ele tem suas próprias propostas. Ele está se envolvendo mais novamente, o que é fantástico”.

Uma das mudanças editoriais aplicadas por Baraldi foi trazer A Enciclopédia do Terror, uma versão do antigo Almanaque do Terror. A Enciclopédia traz três histórias com temas específicos. No primeiro, lançado em 2023 foi S de Sereia, M de Mito e F de Fantasma. E as edições BIS, geralmente publicadas em julho, trarão histórias de Dylan Dog, mas semelhantes ao “E Se…” da Marvel. Na edição que sai em julho de 2024, a trama acontece no ano de 1899, onde Dylan está em uma viagem na Antártica, mas durante cinco semanas o navio fica preso no gelo. A tripulação encontra um fóssil misterioso e o terror começa ao estilo de “O Enigma de Outro Mundo”, de John Carpenter.

Enciclopédia do Medo 2023 / Dylan Dog #454 BIS

Baraldi ressalta que preparou uma carta aos redatores, uma espécie de declaração de intenções. “Com muito respeito aos colegas que trabalham na revista há mais anos do que eu. Hoje temos tantas opções, séries, games, TV… para um jovem, porque deveria escolher Dylan Dog ao invés de um mangá? Temos que dar uma resposta, e na minha opinião é: Escolha Dylan Dog para encontrar algo que te surpreenda, que te deixe sem palavras. Escolha Dylan para ler histórias que ficarão eternamente com você”.

 

Dylan Dog, a depressão e o stalking

Novembro de 2023 chegava ao fim a Nova Série de Dylan Dog publicado pela Editora Mythos. A edição #32 trouxe a história “O Branco e o Preto”, escrita por Paola Barbato com desenhos de Corrado Roi, uma história de alto nível que só indicava que a coleção não deveria ter se encerrado ali. Este texto é mais uma análise da edição, por isso terá spoilers.

Dylan começa a enxergar estranhas manchas pretas, com frequência e cada vez maiores. Pontinhos no Groucho, no para-brisa do Maggiolinno, saindo da boca de sua namorada… A escuridão se espalha como um incêndio, mas apenas para Dylan, que permanece isolado e confuso. A realidade vai desaparecendo lentamente e Dylan perde todo o contato e fica sozinho na escuridão absoluta.

É quando ele encontra o Bicho Papão, personagem que Dylan já havia derrotado na edição #186 – O Homem Preto, ainda inédita no Brasil, escrita por Luigi Mignacco com desenho de Piero Dall’Agnol. Neste novo encontro, existe um enredo brilhante por si só, onde o bicho papão pede para que Dylan ensine o próprio filho a ser mais assustador e trabalhar melhor com seu ofício: apavorar. E também é explorada a questão de que a lógica neste mundo é totalmente invertida, tanto a questão da luz e escuridão, mas também nas palavras e sentimentos. Essa constância entre o branco e o preto e suas nuances é onde Corrado Roi brilha.

Dylan pergunta, “Então… Isso é o nada?” e o Bicho Papão responde: “Ah, não… Este é o tudo!”. Tudo é nada e nada é tudo e Dylan não consegue se libertar, o que nos leva a uma das premissas principais de O Preto e o Branco. Nos mostrar uma alegoria sobre a depressão.

A escuridão representa a irracionalidade e o branco a racionalidade. Dylan precisa lidar com seus medos para não se perder no branco, mas sem deixar-se dominar por eles para que eles não o devorem (pânico). Os conflitos que se seguem não são entre racionalidade e irracionalidade, mas sim entre emoções e sentimentos negativos e positivos, ou seja, entre dois elementos não racionais. Dylan se adapta ao mundo escuro evocando seus medos e depois enfrenta os monstros que ele invoca não com pensamentos racionais, mas com bondade, generosidade e risadas.

Dylan percebe que não consegue existir sem seus pesadelos, medos e fobias. Ele insiste em estabelecer um equilíbrio entre racionalidade e irracionalidade, medo e esperança. Para ele, são conceitos absolutos e imutáveis, e a estabilidade permanente pode ser alcançada dosando-os. Mas, na verdade, tudo é dinâmico e é impossível encontrar um equilíbrio. É impossível proibir ou evitar o medo, mas é possível superá-lo.

Dylan e seu maior medo

Barbato é uma das escritoras que melhor sabem escrever Dylan, depois claro, de Sclavi, o criador do Investigador do Pesadelo. Através de Dylan, sempre houve um forte comprometimento com as questões sociais, com histórias carregadas de mensagens sobre direitos, igualdade, paz, respeito aos animais… É sempre abordado um tema onde o leitor se pergunta, o que este tema significa pra si mesmo, e especialmente para Dylan Dog?

Em O Preto e o Branco, Barbato nos revela mais uma vez que um dos maiores medos do personagem é ser rejeitado, ficar sozinho. Especialmente pelas mulheres. Na história, o próprio Medo se personifica na forma de uma mulher.

Alegoria ao Stalker “perseguidor”

“A” Medo nos proporciona um diálogo muito interessante e terrível com Dylan: “Você me cortejou por muito tempo, às vezes com gentileza, outras vezes com veemência. Eu cedi, admito, e dançamos juntos muitas vezes”. Aqui, Barbato não está falando da relação de Dylan com um ser sobrenatural, mas sim das relações entre homens e mulheres.

Medo descreve as diversas formas como os homens se comportam como idiotas: “Você se tornou obsessivo, sufocante. Você sempre me procurava, em todos os lugares, sob qualquer pretexto… Se eu não chegasse imediatamente, você aumentava a dose, ia um pouco mais longe, cada vez mais, cada vez mais! Eu me tornei seu vício. Sua droga. E já é assim há tanto tempo que você começou a se acostumar. Quantas vezes você me desafiou? Quantas vezes você me forçou a ir até você? Eu nunca sou o suficiente para você, você me quer de novo e de novo! Você não é mais um amante, Dylan Dog. Você é um perseguidor.”

O comportamento possessivo mata o amor, que desaparece cada vez mais apesar da busca desesperada. Embora algumas mulheres também se comportem desta forma, a maioria dos homens com esse comportamento levam esta situação a pior das consequências: o feminicídio.

A Itália, assim como o Brasil, é um dos países que mais sofrem deste crime terrível. Em 2023 o país registrou 120 assassinatos de mulheres. Na última semana, um homem matou a mulher a facadas durante um jogo da Eurocopa entre Itália e Espanha. No Brasil os dados são ainda mais alarmantes. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2023 foram registrados 1.463 casos de mulheres que foram vítimas de feminicídio – ou seja, cerca de 1 caso a cada 6 horas. Esse é o maior número registrado desde que a lei contra feminicídio foi criada, em 2015.

Barbato nos mostra que perseguir, querer muito alguém nada tem a ver com amor: assim como o viciado em drogas Dylan não sente mais medo e os perseguidores não sentem mais amor. Tal como os stalkers, Dylan diz que não pode existir sem o objeto dos seus desejos: o medo. Por isso ele tem a profissão que exerce e o comportamento que tem.

O que se esconde debaixo da cama da história

No prefácio, Recchioni cita Coco Chanel, estilista que popularizou o uso de preto, antes utilizado apenas em ocasiões de luto e Corrado Roi cria o Bicho Papão inspirado no ser sobrenatural do filme de terror “O Babadook”, de Jennifer Kent, filme australiano de 2014. Falando em Roi, não é necessário dizer que seu trabalho é impecável, é o mestre do preto e branco e seus desenhos assustadores e oníricos tem o cenário perfeito nesta história.

No prefácio, Recchioni cita Coco Chanel, estilista que popularizou o uso de preto, antes utilizado apenas em ocasiões de luto e Corrado Roi cria o Bicho Papão inspirado no ser sobrenatural do filme de terror “O Babadook”, de Jennifer Kent, filme australiano de 2014. Falando em Roi, não é necessário dizer que seu trabalho é impecável, é o mestre do preto e branco e seus desenhos assustadores e oníricos tem o cenário perfeito nesta história.

No início da história, Groucho quebra a quarta parede quando Dylan se queixa dos pontos pretos que cobrem tudo e todos. Groucho diz: “A culpa é de quem nos desenha, ele sempre exagera com a tinta… Qual o problema, chefe? Você não entendeu a piada metatextual?”.

Dylan Dog – O preto e o branco é uma daquelas histórias que só poderia ser contada em um quadrinho, e em um quadrinho de Dylan Dog.

O retorno da série Um Homem Uma Aventura

2024 tem sido um ano surpreendente em relação à série Um Homem Uma Aventura. Três editoras lançaram obras da série italiana lançada pela Sergio Bonelli Editore na década de 1970. Entre os mestres que fizeram parte da coleção estão Sergio Toppi, Milo Manara, Hugo Pratt e o brasileiro Jô Oliveira.

A coleção italiana Un Uomo un’Avventura (Um homem, uma aventura) foi publicada originalmente entre novembro de 1976 e novembro de 1980 pela Edizioni Cepim, atual Bonelli. A coleção foi idealizada pelo próprio Sergio Bonelli, com a curadoria de Dezio Canzio e contou com 30 edições luxuosas com os maiores nomes dos quadrinhos italianos, com a exceção de alguns estrangeiros. Cada volume trata de um período histórico diferente, descrevendo-o através da aventura de um homem, feito símbolo daquele momento.

Um dos maiores diferenciais editoriais dessa coleção dentro da Bonelli, é que Sergio deixou os direitos com todos os autores. Quando uma editora hoje vai negociar algum título de Um Homem, Uma Aventura, é preciso falar diretamente com quem detém os direitos das obras, incluindo os originais, não com a Sergio Bonelli.

No Brasil até agora foram publicadas dez das trinta edições italianas. A Editora Ebal lançou seis edições em 1978, em formato europeu. Iniciou com O Homem do Nilo, de Sergio Toppi e seguiu com O Homem da Legião, de Dino Battaglia, O Homem do Caribe, de Hugo Pratt, O Homem da Zululândia, de Gino D’Antonio, O Homem das Pirâmides, de Enric Siò e O Homem de Chicago, de Giancarlo Alessandrini.

Anos sem aparecer, somente em 2022 a coleção voltou ao mercado brasileiro através do selo Tortuga, da Memy Media. A editora republicou o Homem de Chicago em formato italiano na primeira edição da Biblioteca Bonelli, que depois trouxe histórias da série Le Storie. O Homem de Chicago não precisou ser negociado com quem detém os direitos da obra, pois a Bonelli republicou algumas edições de Um Homem, Uma Aventura na série Le Storie Cult. A edição da Memy é baseada na Le Storie Cult #111, com seis histórias de Alfredo Castelli. Outra edição que trouxe histórias da coleção foi a Le Storie Cult #108 onde foram publicadas duas histórias de Gino D’Antonio e Ferdinando Tacconi, O Homem do Deserto e O Homem de Rangoon.

O Homem de Chicago – Roteiro de Alfredo Castelli com desenhos de Giancarlo Alessandrini

No vácuo provocado pela Justiça corrupta que não ordenava a prisão dos poderosos gângsteres que a alimentavam, nasceram as “sociedades secretas”. Vigilantes civis em uma guerra privada contra os chefões do crime. “The Secret Six”, os seis desconhecidos, foi a mais famosa e misteriosa delas, na Chicago sem lei dos anos 1920.

E em 2024, o grande retorno da série. Primeiramente em fevereiro, quando a Editora Figura lançou, no sexto volume da Coleção Toppi, três volumes da coleção Um Homem, Uma Aventura na edição intitulada Revolucionários. Foi republicado O Homem do Nilo, que já havia saído pela Ebal, e os inéditos O Homem dos Pântanos e O Homem do México.

O Homem do México – Roteiro de Decio Canzio com desenhos de Sergio Toppi

Holly McCallister é uma jovem repórter de cinema que segue o pelotão de Pancho Villa para documentar suas façanhas lendárias. Um dia de maio, após o ataque a um trem, o grupo encontra um agente secreto americano, Jimmy Nolan. Ele traz consigo uma carta do governo americano, que afirma que os Estados Unidos estão dispostos a fornecer apoio logístico à causa dos revolucionários. Zapata, pessoa inteligente e reservada, rapidamente se torna amigo de Holly depois que o jovem responde na mesma moeda a uma provocação de Villa, com quem o revolucionário não se dá muito bem. Depois de alguns dias, Zapata decide aceitar as ofertas de Nolan: porém, quer mostrar ao americano a causa pela qual seu país lhe apoia e, portanto, leva-o para testemunhar a sangrenta expropriação de uma fazenda.

O Homem dos Pântanos – Roteiro e desenhos de Sergio Toppi

Erastus Whiteman, um ex-escravizado negro nascido de pele clara que graças a isso consegue fazer carreira como suboficial do exército do Norte, é denunciado por um oficial rude e racista que o deporta enquanto espera para ser julgado por uma corte marcial. Mas durante a viagem ele será poupado pelo líder de uma tribo de indígenas Seminoles cuja vida ele já salvou. Graças à essa ajuda, Whiteman poderá se livrar do uniforme e recuperar a liberdade.

O Homem do Nilo – Roteiro de Decio Canzio com desenhos de Sergio Toppi

Em dezembro de 1884, a capital do Sudão, Cartum, controlada pelos britânicos encontra-se sufocada pelos sudaneses liderados pelo “bem guiado” Mahdi. Neste ponto entra o jovem repórter de guerra Bob Wingate, vai ao local entrevistar o General Gordon que resiste em Cartum. O propósito da história é mostrar “o que aconteceu de verdade”, de como os mahdistas conseguiram dominar Cartum e matar o General Gordon. Oferecendo uma versão, incrivelmente retratada por Toppi, deste grande mistério da História.

Em maio, a Editora Trem Fantasma e o selo Lorobuono Fumetti realizaram uma campanha através do Catarse para o lançamento de O Homem de Canudos, com argumento, roteiro e diálogos por Wanderley Diniz e desenhos e cores por Jô Oliveira. A única edição escrita e desenhada por brasileiros da coleção. A campanha foi bem sucedida e em breve as edições chegarão aos apoiadores.

O Homem de Canudos – Roteiro de Wanderley Diniz com desenhos de Jô Oliveira

No final do século XIX o sertão nordestino era assolado por seca, fome e violência. Após ver sua família ser morta por jagunços, Pedro se encontra em uma sinistra espiral de vingança e redenção, até que seus passos cruzam com os de Antônio Conselheiro. Naqueles dias, “o sangue correrá como rio no sertão” e as forças da recém instaurada República avançam sobre o “messias de Canudos” e seus seguidores. A história mostra Pedro tentando sobreviver ao embate que marcou para sempre a História do Brasil.

Neste mês de junho foi lançado pela Editora Comix Zone Odisseias Iniciáticas, obra que reúne duas obras de Milo Manara, O Homem de Papel e O Homem das Neves, esta última lançada na coleção Um Homem, Uma Aventura, em novembro de 1978.

O Homem das Neves – Roteiro de Alfredo Castelli com desenhos de Milo Manara

Uma expedição inglesa, liderada pelo coronel Charles Howard-Bury, tentou chegar ao cume do Everest em 1921. A quase sete mil metros foram encontradas estranhas pegadas, que pareciam pertencer a um animal gigantesco: os sherpas recusaram-se a continuar por medo de um ser que chamam de “metch kangmi” ou “repugnante boneco de neve”. A partir daí, a lenda do Yeti começou a se espalhar. O protagonista da história é Kenneth Tobey, jornalista do Daily Telegraph que escreveu o artigo inspirado no envio dos montanhistas ingleses. Keneth teve a oportunidade de se juntar à expedição para subir o Everest, mas foi interrompida por uma avalanche e ele precisou encontrar refúgio em um mosteiro budista. A história mostra a tentativa de fuga do mosteiro e os perigos que a montanha oferece a quem desafia seu isolamento extremo.

Em 2025, ainda não anunciado pela editora que terá o nome aqui preservado, será lançado O Homem das Filipinas com Ivo Milazzo nos desenhos e Giancarlo Berardi no roteiro. Dupla que criou Ken Parker.

O Homem das Filipinas – Roteiro Giancarlo Berardi e desenhos de Ivo Milazzo

Após a Guerra Hispano-Americana de 1898, as Filipinas ficaram sob o controle dos Estados Unidos, e é nesta época que se passa o enredo deste volume. O presidente William McKinley e seu vice Theodore Roosevelt decidiram enviar 120 mil soldados para conter as revoltas em busca de independência. Um civil nova iorquino, James Stappleton desembarca na ilha para ajudar o Coronel Harris, que tentava iniciar uma negociação de paz.

A coleção ainda contém várias pérolas não conhecidas pelos brasileiros como O Homem de Pskov, de Guido Crepax, que conta a história do tenente Aleksei Orlov. A história explora a marcha do General Yudenic, do Exército Branco com o objetivo de conquistar Moscou durante a Guerra Civil Russa de 1918.

A Pipoca & Nanquim está publicando uma Coleção Crepax, negociando diretamente com os espólios das obras do italiano, porém ela segue a coleção da Fantagraphics que até o momento já chegou à oitava edição, sem republicar O Homem de Pskor. Crepax também publicou O Homem do Harlem em 1979 para a coleção Um Homem, Uma Aventura.

O Homem da Nova Inglaterra, de Dino Battaglia que conta a história de Christopher Nightly, um jovem entusiasta de caça, forçado a deixar a Inglaterra às pressas devido a um jogo de cartas que terminou mal. Viaja até Boston onde acaba vivendo desventuras na América durante o período colonial, enfrentando ataques indígenas e precisando sobreviver nas imponentes florestas coníferas.

O Homem do Sertão, com roteiro e arte de Hugo Pratt traz uma história desafiadora e surreal ambientada em 1938 no Nordeste brasileiro. A região muito pobre vive em meio ao conflito dos cangaceiros e os soldados do governo. A jovem e selvagem Satãnhia é namorada de Gringo Vargas, um dos líderes rebeldes, e é irmã de Sabino, que trai seus companheiros e provoca a morte de Gringo e de todos os cangaceiros. Gringo Vargas só poderá ir em paz ao reino dos mortos se conseguir se vingar matando o traidor Sabino. Mas Sabino é morto pela irmã, Satãnhia. Um drama que envolve amor e tradições em uma história muito bem elaborada por Pratt.

E um dos mais incríveis títulos da coleção, O Homem de Iwo Jima, de Gino D’Antonio, autor de História do Oeste recém lançado pela Editora Saicã. A edição traz a história de Joe, um soldado que está na ilha de Iwo Jima nos primeiros meses de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. Joe se junta a um pelotão liderado pelo Sargento Stagg, um homem cínico e um fanático belicista. O objetivo deles é conquistar o Monte Suribachi, reduto do exército japonês. Uma missão brutal que representará uma luta contínua de Joe contra seus princípios.

A coleção ainda conta com obras de Ferdinando Tacconi, Attilio Micheluzzi, Bonvi, Renato Polese e até do próprio Sergio Bonelli e Aurelio Galleppini. Quem sabe nos próximos anos tenhamos a chance de adquirir toda essa histórica coleção, independente de quantas editoras forem publicar.

 

Mythos organiza tarde de autógrafos com Pedro Mauro

A Editora Mythos realizará em sua loja em São Paulo, a Mundo Mythos, uma tarde de autógrafos com o desenhista brasileiro Pedro Mauro. O evento chamado “Café com Desenho na Mundo Mythos!” comemora o lançamento da Tex Especial Colorida #18, edição que traz a primeira história de Tex desenhada por um brasileiro.


Lançada em novembro de 2023 na Itália, a Color Tex #24 trouxe a história “Noite Longa em Cayote”, com roteiro de Mauro Boselli e desenhos de Pedro Mauro. Em 75 anos do personagem, essa foi a primeira vez que um brasileiro o desenhou para a Sergio Bonelli Editore. Tex foi criado por Gianluigi Bonelli e Aurelio Gallepini em 1948 e em 1951 já estava sendo publicado no Brasil.
De início era chamado Texas Kid na Revista Junior, que saia pelo jornal O Globo em formato tiras em talão de cheque. Desde 1971 é publicado ininterruptamente por quatro editoras diferentes, Vecchi, RGE, Globo e pela Mythos desde janeiro de 1999.

Página desenhada por Pedro Mauro.

Pedro Mauro iniciou a carreira na década de 1970 fazendo quadrinhos de faroeste para a Editora Taika. Depois migrou para o mercado publicitário retornando aos quadrinhos em 2014 onde, pela Editora italiana Sergio Bonelli desenhou duas edições de Adam Wild (no Brasil publicada pela Editora Saicã). Depois fez Mugiko (Trem Fantasma) e quadro episódios da série Primavera de 78 (Lorobuono Fumetti/Editora85), todas com roteiros de Gianfranco Manfredi.

Neste período ilustrou também um álbum da série “L´art du Crime”, de Marc Omeyer e Olivier Berlion para a Editora Glénat (França).
Entre 2017 e 2019, Mauro lançou independentemente a trilogia “Gatilho” (“Gatilho”, “Legado” e “Redenção”) com roteiro de Carlos Stefan. Em 2021, a trilogia foi lançada em cores pela Editora Pipoca e Nanquim em uma edição definitiva compilada. Também pela Pipoca repetiu a parceria com Manfredi em O Procurador (2022). Mauro também colaborou com sua arte para um projeto da DC, Batman: O Mundo, publicada no Brasil pela Panini Comics.
O convite para desenhar Tex veio do próprio editor italiano do cowboy, Mauro Boselli, onde, junto ao jornalista Thiago Gardinalli, Pedro Mauro foi até a sede da editora em Milão assinar o contrato.


A edição especial colorida de Tex, parada desde 2021, retornou em maio para trazer a história do brasileiro. Para comemorar, no dia 8 de junho, às 14h30, será realizado um café para recepcionar os leitores, editores e o desenhista na loja Mundo Mythos localizada na Galeria Ouro Velho, R. Augusta, 1371 – Sobreloja 01 – Consolação, em São Paulo.


Será disponibilizada para venda uma limitada edição com sobrecapa da Tex Especial Colorida #18, com uma arte única de Pedro Mauro e com espaço para autógrafos e sketches.

Artes Originais de Pedro Mauro para a edição. Fotos de Ricardo Elesbão:

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