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Faroestes “brasileiros” com DNA Bonelli serão publicados pela Pipoca & Nanquim

Agora é oficial: Trilogia Gatilho em cores e volume único, de Carlos Estefan e Pedro Mauro, e outro quadrinho inédito de faroeste (The Solicitor), de Gianfranco Manfredi e Pedro Mauro, serão publicados pela Pipoca & Nanquim (PN).

Das Terras Frias a mais nova casa da Bonelli no Brasil: Editora Saicã

E vem da Terras Frias a mais nova editora a publicar quadrinhos italianos (Fumetti) da nossa querida Sergio Bonelli Editore. Com sede em Rosário do Sul, RS, idealizada e criada por um grande colecionador e fã de quadrinhos Bonelli. A Editora Saicã, recém criada, fará suas primeiras publicações em 2021 por meio de financiamento coletivo, também conhecido como crowdfunding. A plataforma escolhida é o Catarse, a exemplo das várias editoras que surgiram nos últimos três anos e que publicam Bonelli.

Gea fala de diversidade e representatividade

Discriminação, conflitos étnicos, deficiências, sexualidade e homossexualidade. Estes temas, mas de forma mais direta e realista são encontrados em Gea. Obra de Luca Enoch criador de Lilith e Dragonero, que atualmente está em Catarse pela editora Red Dragon.

A série foi publicada originalmente na Itália, pela Sergio Bonelli Editore, entre junho de 1999 e novembro de 2007, somando 18 edições. No Brasil, a série será publicada em 6 volumes. Cada edição trará 3 edições italianas em 396 páginas.

Enoch e sua revolução nos quadrinhos italianos

Sergio Bonelli uma vez chegou a comentar que o fumetti “Sprayliz” era um dos quadrinhos que ele mais apreciava na época. Sprayliz foi criado por Luca Enoch e publicado pela Star Comics, e Bonelli falou isso quando Enoch apresentou Gea pela primeira vez à ele (final da década de 1990). Bonelli foi muito reticente à época para publicar Gea, pois sabia que a obra representava um impacto profundo no modelo editorial da Bonelli, porém, como o sempre incrível editor que era, sabia que se fazia necessária sua publicação.

Em Sprayliz”, Enoch conta a história de uma adolescente que adora grafites urbanos e tratou de temas como homossexualidade à pornografia, racismo à drogas. Temas que não eram originais, mas pela primeira vez foram abordados em uma história em quadrinhos popular e serial. Após onze edições, apesar do sucesso de Sprayliz, Enoch deixou a Star Comics e passou a trabalhar para a Sergio Bonelli Editore. Ele primeiro desenhou Legs Weaver, e depois apresentou sua personagem: Gea.

Em meio à obras já consolidadas da editora Bonelli, Enoch conseguiu o feito de convencer Sergio Bonelli a publicar Gea. Superou a relutância natural do editor italiano em publicar quadrinhos com referências óbvias à realidade social e política atual. Por dezoito números, Enoch apresenta em Gea questões complexas além da luta do bem e do mal.

 

Gea e seu lugar no mundo

Gea é uma garota muito estranha de quatorze anos. Mora sozinha, em um prédio abandonado de uma antiga área industrial, na companhia de seu gato preto Cagliostro, ela não tem pais e é cuidada à distância por um esquivo “tio” que ela nunca viu. Gea é da casta dos Protetores, um ser com poderes particulares com a tarefa de impedir que outros seres, conhecidos como Invasores, entrem em nosso plano de existência.

Na verdade, nossa Terra faz parte do Multiverso e é um “Ponto Primário de Convergência da Dinâmica Dimensional”. Isso significa que em certos momentos, quando os planos dimensionais se cruzam, as Presenças e Energias que habitam os outros planos de existência entram em nossa dimensão. Os Protetores são colocados lá para destruí-los ou mandá-los para casa antes que causem qualquer dano.

Mas Gea também é uma garota muito normal com os problemas e paixões de sua idade. Ela toca em uma banda de rock amador com outros jovens da mesma idade. Nesse grupo ela conhece Leonardo que ficou paraplégico após um acidente de carro. Leonardo (Leo), alguns anos mais velho que Gea, tem um espírito indomável, enfrenta com orgulho e teimosia os problemas decorrentes de sua deficiência. Na banda de Gea, Leo toca bateria, instrumento que foi adaptado para ele poder tocar.

Leo além de fazer parte do elenco cômico da série é mais que um coadjuvante. Leo é uma figura real na representação de sua deficiência, e a aceita com força de vontade, lutando para que a sociedade derrube as barreiras que o impedem de levar uma vida normal.

Mas o espírito de auto aceitação de Leo não é (e realisticamente não pode ser) total. Na sexta edição é representado um dos temas mais dramáticos para uma pessoa com deficiência devido a lesão na medula óssea, o da sexualidade. Nas páginas que tratam do assunto emerge a necessidade premente de Leo por contato físico e a impossibilidade de racionalizar o problema. A atitude de Gea em relação ao amigo é intrinsecamente saudável. Ela nunca assume atitudes compassivas e não hesita em maltratá-lo quando ele se permite liberdades excessivas. Em outras palavras, ela o trata como uma pessoa normal e não como uma pessoa com deficiência!

Diversidade e representação em várias frentes

Mesmo sendo um quarinho de ação, fica nítido que Gea se trata de uma história sobre diversidade e representatividade.

A importância da representatividade pode ser exemplificada da seguinte maneira: uma criança paraplégica está condicionada a usar cadeira de rodas ao longo de toda a vida. Ela cresce vendo heróis com os quais seus colegas se identificam, mas que não fazem com que ela se sentisse representada. Então surge um herói dos quadrinhos cadeirante, e o fato de usar cadeira de rodas não o impede de combater o crime. A partir disso, a criança passa a se identificar com alguém, que – ainda que fictício, entende tudo o que ela vive sendo uma cadeirante. Entende enfim todo o preconceito e as dificuldades, e passa o ensinamento de que a cadeira de rodas não deve ser um empecilho para fazer o que se tem vontade, tornando-se um exemplo a ser seguido.

Esta “magia” da representatividade pode ser expandida para a questão de sexualidade e identidade de gênero, cultura e nacionalidade além de doenças e deficiências.

Em Gea vemos essa questão com Leo e também Siegfried, outro coadjuvante que se diferencia na trama. Jogador de hóquei no gelo, Sig como é chamado é voluntário em um serviço de transporte para deficientes físicos, “doador de voz” para cegos em uma livraria, gay declarado e comprometido com a defesa dos direitos dos homossexuais.

Como Protetora, Gea tem o trabalho de destruir as entidades que invadem a realidade. Mesmo existindo entidades terríveis e cruéis, na maioria das vezes são criaturas assustadas escapando de mundos em crise. Como migrantes de países do terceiro mundo. Gea ao invés de tomar a iniciativa de destruí-las como manda seu dever, na maioria das vezes, simplesmente os convence a ir a um limbo celestial, esperando que as convergências dimensionais os tragam de volta ao seu próprio mundo.

Com essa atitude, Gea renova a atitude tradicional das protetoras femininas, que ao longo do século optaram por uma solução não sangrenta para invasores extradimensionais. Por isso, as protetoras que tomavam a iniciativa de falar com estas entidades, (que nada mais era do que orcs, duendes, etc..), foram definidas como “bruxas” e condenadas à fogueira. Já suas contrapartes masculinas foram definidas como heróis ou santos, quando, com espada na mão, lutavam e matavam estas “criaturas malignas”.

Personagens com voz e atitude

Enoch, além de trazer representatividade feminina ao apresentar em quase todas as suas obras protagonistas femininas. Coloca nas páginas de Gea questões como o orgulho gay, propriedades terapêuticas de algumas drogas, imigração ilegal, deficiências e muito mais. Deixa que seus personagens defendam suas teses, por vezes opostas em diálogos verborrágicos muito interessantes.

Em Gea, temos a confirmação de que a presença do diferente, seja fisicamente diferente, ou por raça ou por opção sexual, durante a história da humanidade cegou a razão e desencadeou sentimentos primordiais dos homens das cavernas, que temiam que outros homens mais poderosos tirassem suas vidas. Daí o horror na representação do diferente.

Mas o verdadeiro horror está na tentativa de racionalizar esse sentimento irracional em si mesmo. Lembrando que quando o medo do outro se tornou ideologia, quando a irracionalidade se tornou conduta política, foi quando nasceu o nazismo.

Não deixe de apoiar mais esse fumetti Bonelli. Acesse: Catarse/Gea1

Never Die Club está na Catarse! Incentive!

Porque falar de outros quadrinhos que não Bonelli?

A pergunta certamente é a primeira que incorre na cabeça do nosso leitor: oras, se o site é “confraria bonelli”, que raios uma publicação que nunca vi na vida faz aqui? E é justamente dentro da pergunta que está a resposta. A Confraria Bonelli, em sua fundação, tem como propósito o fomento e o incentivo a leitura e a cultura dos quadrinhos no Brasil. Projetos como este aqui que estamos apresentando e desde já declarando nosso apoio serve como ESTIMULO aos interessados em trazer a vida aos novos e outros tantos personagens extintos em nosso país, INCLUSIVE os bonellianos.

E exatamente por isso criamos a sessão “Off Topic”, para poder abrigar e colaborar com grandes iniciativas! Agradeço também ao Lucas Pimenta, por permitir que esta jornalista amadora, pudesse conhecer um pouco desta obra absolutamente envolvente.

Então, puxe a cadeira, acomode-se e acompanhe esse incrível lançamento que promete dar vida a muitos outros projetos “escondidinhos” por ai 😉

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E hoje tivemos  ~finalmente~ a divulgação oficial pela galera da Editora Quadro a Quadro, do álbum Never Die Club na Catarse!

O Projeto

A doce referência para os gamers da TallTale 🙂

Never Die Club foi concebido em 2010 e permaneceu em em produção até 2015, com as artes do desenhista Thony Silas, arte-final da dupla Elton Thomasi e Mano Araújo, além da colorização pelo artista plástico Paulo Torinno.

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