Pode-se dizer que Giancarlo Berardi e Ivo Milazzo criaram seu próprio universo. Claro, não tão grande e famoso como o de Walt Disney ou a dupla Stan Lee e Jack Kirby, mas sem sombra de dúvida com a mesma importância na história dos quadrinhos.

As histórias de Tommy Steele foram publicadas no Brasil pela Opera Graphica em 2002.

Neste universo criado pelos dois autores, a estrela mais brilhante, admirada e amada é Ken Parker. E em torno desta imensa estrela, vários planetas orbitam como o do menino guerreiro Tiki, o do detetive Marvin, o de Giuli Bai, o Homem das Filipinas, o planeta de Welcome to Springville e dos muitos contos que sempre pairam em torno da estrela-mãe.

E há também o Tom’s Bar, que aqui vou chamar carinhosamente de Bar do Tom.

As quatro histórias estreladas por Tommy Steele, o Tom, são as melhores que a dupla italiana conseguiu criar no período pós-Ken Parker. Quatro contos, que podem ser lidos em um tempo relativamente curto, mas que parecem durar uma eternidade.

Na Chicago dos anos 40, já vista em centenas de filmes de Hollywood, na qual Tommy Steele vive, um ex-gângster aposentado que gerenciam um Bar. Um lugar tranquilo onde você pode saborear bebidas e tomar café ouvindo um bom blues.

Para estragar a atmosfera amena de Tommy, há um tolo que se atreve a ficar pedindo dinheiro em troca de proteção, ou um amigo que lhe pede refúgio porque é procurado por uma gangue rival. No sossego de sua vida, como um homem vivido, Tommy sempre tenta complementar os poucos ganhos de seu Bar vendendo armas velhas para jovens em busca de problemas.

Embora ciente da sabedoria que sua vida agitada lhe deu, ele nunca se permite julgar ou dar conselhos: “… eu julgo as pessoas por sua face, não pelo que dizem.” Ele exclama com firmeza. E como todos os homens, ele também tem no coração as feridas deixadas por um amor impossível, Iris, a mulher de seu antigo patrão que sempre amou e que a encontra todos os anos no Natal, culpada de viver apenas a ilusão juvenil e ciente da triste realidade que a vida reservou para ele.

Berardi e Milazzo conseguem nos transmitir a nostalgia de outros tempos, o sentimento de culpa, amizade, traição e amor, construindo um personagem que infelizmente teve uma vida editorial muito curta e que teria merecido ser aprofundado como seu irmão mais velho, Ken Parker. Porque, acredite ou não, Tommy Steele não tem nada a invejar ao anti-herói loiro, na verdade, com apenas quatro contos, a dupla revolucionária conseguiu realizar um verdadeiro prodígio artístico, uma obra-prima que assume um caráter épico de grandes obras.

 

Berardi e Milazzo.

As palavras de Berardi soam com a mesma poesia e aspereza usadas por autores como Chandler (autor de Sono Eterno, 1943) e Hammet (criador do Falcão Maltês). Os desenhos de Milazzo são os mais bonitos que você poderia desejar de um artista. Sua Chicago, envolta em trevas  e imersa na neve, é uma obra-prima do impressionismo artístico onde poucos conseguem se igualar nos quadrinhos.

Tudo é perfeito no Bar do Tom.

É uma obra –prima.

CURIOSIDADE

A música que é o pano de fundo da primeira história, “Quase sempre” é a mítica “Stardust” do grande Hoagy Carmichel.

Você pode escutá-la aqui:

Para a cenografia do bar de Tom, Ivo Milazzo foi amplamente inspirado no bar frequentado por Ray Milland na obra-prima de Billy Wilder, The Lost Weekend (1945), chamado no Brasil de Farrapo Humano. Você pode assisti-lo AQUI.

Farrapo Humano (1945)

Atmosfera do bar totalmente inspirada neste filme.

As histórias de Tommy Steele foram publicadas no Brasil pela Opera Graphica em 2002. A edição continha 52 páginas no tamanho de 21x28cm. Nesta mesma coleção foram publicadas outras obras de Berardi e Millazo como Marvin – O Caso de Marion Colman, Contraste e Noturno.

Uma edição recomendada é a publicada na coleção Ken Parker Collection n.43, da Panini Comics Itália, que contém Tiki, já publicada no Brasil pela Quadro a Quadro em 2013, Tom’s Bar e Fantasticheria, ainda inédita no Brasil.

Abaixo um trecho animado da história “Lady be good”: