Giacomo Bevilacqua, recém premiado pela sua série Bonelli “Attica” na Lucca Comics & Games 2020, começou a trabalhar na editora milanesa com a história “Lavvender”. Publicada em Le Storie Especial 4, em 2017, Lavvender mostra as aventuras dos jovens Gwen e Aaron em uma ilha deserta paradisíaca, com águas cristalinas e muitos mistérios.
Esta história poderia muito bem ser publicada no Brasil no formato de Monolith, Mister No: Revolução e até mesmo Chambara. Lavvender tem roteiro, arte, capa e cores de Giacomo Bevilacqua. Publicado inicialmente em Le Storie n. 4 (2017), em 130 páginas ganhou uma edição especial em formato maior com 144 páginas coloridas.
Um Thriller de terror na praia
Lavvender é a primeira obra de Giacomo Bevilacua para a Editore Sergio Bonelli. A edição cheira a verão, e até mesmo por isso foi publicada no Le Storie especial de verão. O começo da história lembra muito os filmes de terror/suspense: Jovem casal despreocupado chega a uma bela ilha deserta da qual serão donos por onze dias, a menos que queiram voltar para casa mais cedo. Tudo temperado com algumas frases soltas e insinuações para prender a atenção do leitor.
Em uma história sem muita ambição, porém sólida, um enredo simples e perspicaz. Bevilacqua nos traz bases de filmes de terror adolescente e filmes de horror na praia como Tubarão (Jaws, Steven Spielberg, 1975), Do Fundo do Mar (Deep Blue, 1999) e principalmente A Praia (The Beach, 2000).
Os detalhes com filmes ou romances do gênero não param por aí, de forma evidente e consciente pelo autor. Como por exemplo, não ter sinal telefônico e o único meio de comunicação é o celular via satélite. Mas isso não é problema, pois os dois estão querendo aproveitar aquele “paraíso” com total despreocupação.
Até que o casal comete o maior erro que poderiam cometer, já que estamos em uma espécie de filme de terror, eles começam um “rala e rola” na floresta e alguns barulhos sinistros já começam a ser percebidos no farfalhar das folhas. Bevilacqua aqui já mostra que está jogando com as cartas abertas. Nos apresenta o gênero da história que quer apresentar e daqui pra frente começa a nos mostrar as reviravoltas que ele quis apresentar desde o começo.
Os protagonistas são Gwen, bonita e intelectual, recentemente passou por um luto que a fez entender a importância de ficar com ela mesma. O rapaz é Aaron, simpático, um advogado de pouco sucesso. Os dois são jovens bem estereotipados mas com pés plantados no presente, com o tênis da moda e redes sociais atualizadas.
Bevilacqua se concentra mais em Gwen, com seu corpo curvilíneo e bronzeado, em sua expressividade alegre e curiosa, que com o tempo se torna mais sombria e assustadora. A ilha sem nome é amiga e inimiga, com sua beleza deslumbrante, as cores do mar e do céu variam em intensidade dependendo da hora do dia, e o encanto da natureza esconde perigos e mistérios.
A ilha cartão postal, personagens simples de se identificar, são ferramentas essenciais para o desenvolvimento da trama, deixando o autor livre para focar nas imagens, expressividades e enredo. A história a princípio segue em um ritmo lento e reflexivo, depois cada vez mais acelerado à medida que a tensão aumenta.
O traço sutil deixa a colorização fazer todo o seu show, definindo tons e volumes. O cenário é incrível, com um trabalho de luzes bem elaborada, dando a sensação ao leitor de praia, calor, água, umidade. A sequência “subaquática” merece um destaque especial, pois a colorização fez com que os reflexos do sol fossem reproduzidos no fundo do mar de forma verdadeira.
Esta aventura subaquática é um ponto de virada importante na história, tudo fica melhor. Os personagens começam a planejar, dar ritmo à trama e tudo funciona muito bem. No final, o autor reduz drasticamente o texto e deixa o desenho contar a história de forma dramática e com mais autenticidade.
A história segue sem problemas, chegando a um final bem construído, com uma reviravolta que é tão ‘técnica’ (da qual bastaria falar muito pouco, para estragar a surpresa) como imprevisível. O mistério da ilha é revelado e ao final da leitura, uma sensação agradável permanece mostrando que Lavvender vale a pena.
A seguir imagens da edição:
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