A Bonelli é rica em histórias e personagens e tem coisas incríveis que ainda faltam serem desfrutadas pelos leitores brasileiros. Um deles é Mercurio Loi, concebido pelo incrível Alessandro Bilotta e originalmente desenhado por Matteo Mosca. A série foi publicada de 2017 a 2019 em 16 volumes.

O personagem apareceu pela primeira vez em 2015 no volume 28 (à esquerda) da série Le Storie, que depois acabou ganhando uma edição em cores. A série regular estreou em maio de 2017 e todos os seus volumes são coloridos. Cada volume traz uma história fechada mas ligados por uma trama de fundo e as capas são de Manuele Fior.

Mercurio Loi é um professor universitário que investiga os mistérios de Roma em 1826. Acompanhado pelo seu jovem assistente Otto, seus passeios diários pelas ruas da cidade eterna o levará a confrontar personagens bizarros, eventos inexplicáveis, segredos e conspiradores contra a monarquia papal.

Especialmente à noite, ignorando o toque de recolher imposto pelo papa, Mercúrio veste sua capa e desce as ruas dedicando-se ao que mais lhe interessa, que são os desafios a sua inteligência, sejam eles lançados pelo seu arqui-inimigo Tarcisio Spada, por algum indivíduo misterioso que pula pelos telhados mascarado e coberto, ou mesmo por um cozinheiro que o faça buscar ingredientes especiais para uma receita secreta.

Bilotta afirma que se inspirou nos quadrinhos de super-heróis e sua paixão por Roma. A cidade em uma simples caminhada pode dar uma série de ideias. As histórias de Mercurio Loi começam na virada do Natal de 1825 e do Ano Novo de 1826. Estes são os anos dos Estados papais, período chamado Roma papal, um período histórico em que o papa se tornou rei e governou a cidade com mão de ferro.

Mercurio Loi vive essa época com um sorriso no rosto, indiferente e sem pressa. E nós degustamos Roma junto com ele em suas aventuras. Entre os personagens que acabamos conhecendo está o poeta romano Giuseppe Gioachino Belli, o papa Leão XII, o governador de Roma e o chefe de polícia monsenhor Tommaso Bernetti, os padres, bandidos, o carrasco Mastro Titta, astrônomos, cientistas loucos e Ghetanaccio, o marionetista mais famoso.

A estátua simbólica do Pasquino tem uma importância na história de Mercurio Loi. Nela eram penduradas sátiras destinadas a figuras públicas, inclusive ao papa. Os Carabineiros romanos viviam perseguindo as pessoas que na calada da noite penduravam algo na estátua.

O Pasquino (à direita) é uma estátua grega, que ninguém sabe direito quem é, ela não tem braços nem pernas. Foi de Pasquino que surgiu o nome O Pasquim, do famoso tabloide carioca que nos tempos da Ditadura fazia piadas com tudo e todos.

Outro personagem de Roma que Bilotta traz para Mercurio Loi é o fantasma de Beatrice Cenci. Uma jovem executada em 1599 acusada de matar o próprio pai após sofrer violência contínua do mesmo. O caminho da jovem para a forca foi polvilhado de flores atiradas aos pés da menina pelas pessoas que acompanhavam. Uma história de inocência violada e vingança implacável se tornando uma fascinante e comovente figura histórica romana.

Mercuiro Loi é o entretenimento perfeito para quem quer saber mais sobre lendas e histórias de Roma. O ritmo animado da história e alguns momentos de tensão evitam o risco de previsibilidade e que o quadrinho se torne algo monótono.

Enfim, mais um grande quadrinho Bonelli que agradaria a muitos fãs brasileiros. Esperamos vê-lo em breve por aqui.